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As experiências da vida e o estímulo às mulheres empreendedoras

As experiências da vida e o estímulo às mulheres empreendedoras

Christina Haddad Souza Vieira é coordenadora do Sebrae regional Venda Nova desde 2012. Antes de assumir esta função, ela passou por inúmeras experiências pessoais e profissionais que lhe renderam bagagem suficiente para inspirar e encorajar outras mulheres

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Sempre discreta, Christina Haddad Souza Vieira, 48 anos, nunca fala de si mesmo ao sentar com uma cliente. No entanto, ela sabe como poucas usar palavras de estímulo para encorajar mulheres a colocarem para fora o seu talento e empreender. Atualmente coordenadora do Sebrae regional Venda Nova, ela levou para a instituição sua garra e sabe se colocar, sempre em voz baixa e com bons argumentos.

Christina poderia estar em qualquer outro lugar que ela se destacaria. A vendanovense que nasceu em Afonso Cláudio no dia 10/09 tem um excelente repertório de educação formal e uma vida cheia de altos e baixos. Os pais, Fátima Haddad de Souza e José Anilton Dias Vieira, que são afonsoclaudenses, já moravam em Venda Nova, quando passeando na terra natal Christina decidiu nascer ainda aos sete meses de gestação.

Ela estudou nas escolas públicas de Venda Nova e casou-se com Eduardo Comarela Zandonade, o Dudu, ainda muito jovem, aos 15 anos. Aos 16 já era mãe de Isabela (1989) e o segundo filho Vinícius, nasceu em abril de 1995, no seu último ano de faculdade.

Para garantir uns trocos, aos 16 anos Christina dava aula particular de matemática e também passou a substituir professores que estavam de licença. Ao se formar em ciências contábeis (final de 1995), começou trabalhar na parte administrativa da firma do pai, a extinta RD      Vieira.

Um dos maiores baques de sua vida foi ficar viúva aos 28 anos. Em 2000, Dudu, que comprava a produção de agricultores locais, foi de carona em um caminhão tentar receber uma dívida em Salvador, quando sofreu um acidente. Além de perder o marido e não receber, ela ficou com todas as dívidas junto aos produtores rurais fornecedores.

Só restou a coragem para Christina enfrentar todos os problemas e pagar todas as dívidas. Ela reconhece que o apoio de sua família foi primordial para suportar, pois o pais a acolheram com os dois filhos. A intenção era ficar na casa dos pais até terminar o apartamento (inacabado que comprou com o dinheiro do seguro que por acaso ela adquiriu como produto agregado a outros serviços de um banco), mas ela só saiu de lá casada de novo, em 2006.

“Não foi fácil dizer para o meu pai: “Eu preciso ir para dentro da sua casa, com meus dois filhos, sem custo, pois preciso terminar meu apartamento”. O apoio também veio dos sogros, que já davam suporte para Christina na época que estudava, ficando com Isabela e depois com o segundo filho. “Eu tenho uma gratidão muito grande aos meus pais e aos meus sogros. Sou quem eu sou pela soma de tudo que passei e pelo apoio que recebi”.

Depois de passar pelo escritório da empresa de seu pai, Christina foi convidada a trabalhar na Prefeitura de Venda Nova como gerente de projetos na gestão de Braz Delpupo. Mais tarde, ela acumulou outras funções, totalizando sete anos de atuação na Municipalidade. Christina admite que ela aprendeu muito sobre políticas públicas, com o compartilhamento dos conhecimentos do experiente Roberto Scardine (administrativa e licitações), além de fazer uma vasta rede de relacionamento. Ali também ela reencontrou uma amizade de infância, Nara Caliman, com quem compartilhou muitas experiências profissionais e de vida. “Fomos o ponto de apoio uma da outra”.

Frequentar e fazer parte dos movimentos da igreja católica também estava fazendo muito bem a Christina. Em 2003 ela conheceu Paulo Lobo, o popular 'Paulinho da Ótica', que cantava junto ao grupo responsável pela animação das missas da Renovação Carismática e se encantou por ele. Como eles tinham um amigo em comum, ela mandou um recado dizendo que ele era o número dela. Deu certo. Com ele, seu agora esposo, Christina passou a ter nele seu parceiro de vida, apesar de eles serem tão diferentes: ele mais solto e comunicativo e ela, mais silenciosa.

Christina tocou piano dos 9 aos 15 anos e cresceu convivendo com a música, assim como a mãe e os irmãos. Paulinho começou tocar na noite e quando ia ensaiar, ela sempre ficava perto e, quando a parceira musical dele engravidou e parou de cantar, Christina atendeu às investidas constantes do marido e começou a cantar. “Foi um dos maiores desafios da minha vida. Eu era muito tímida e essa experiência me ajudou a vencer o medo de falar em público e, consequentemente, a melhorar a minha desenvoltura na vida profissional. Eu me soltei mais”.

Em 2008, Christina encerrou seus trabalhos na Prefeitura e, em sociedade com Edmar Lordello, montou um escritório de contabilidade e, em 2010, uma ótica com o esposo: ela no financeiro e ele na parte comercial. Também em 2010, foi para o Sebrae Venda Nova, mantendo os três negócios. Mas depois de dois anos, quando passou a ser a coordenadora do Sebrae Venda Nova, ela e o sócio fecharam o escritório.  A ótica evoluiu, expandiu e hoje são sete lojas em diferentes municípios da região. Ela continua na parte financeira e pessoal de todas as unidades.

Além de manter todas as lojas funcionando e atendendo com excelência, uma das empreitadas do casal agora é formar os sucessores. O filho dele, Paulo Victor Lobo, 20 anos, se integrou à equipe há pouco mais de seis meses. Já Isabela, filha de Christina, está há seis anos e atualmente faz a gerência administrativa, enquanto Vinícius está se preparando para assumir a supervisão das lojas.

Hoje Christina está segura no lugar que ocupa profissionalmente e como pessoa na vida afetiva, familiar e na sociedade. Ela coordena uma equipe de seis mulheres e um homem e usa sua experiência para olhar com mais compaixão para as pessoas, principalmente as mulheres, que querem empreender enquanto encaram o desafio da inexperiência natural da juventude, da maternidade ou da idade mais avançada. “A vida é mais exigente com as mulheres e, quando elas encontram apoio e solidariedade, deslancham”.

Christina é gestora da agência Sebrae que contempla dez municípios da Região Serrana. Ela explica que antigamente, a agência trabalhava por segmentação e hoje o leque se abriu e não existe um profissional designado para um setor específico. Por exemplo, antes havia alguém só para o turismo. Com a mudança de estratégica, mais três analistas foram designados para Venda Nova para atender, além dos pontos estratégicos (café e turismo), a demanda que surgir de qualquer outro setor. “Pretendemos agora trabalhar áreas como a Feira Livre do Produtor Rural, o setor de floricultura, e trabalhar o turismo de nossa região com novos empreendimentos que necessitam de nossa orientação. Temos que enxergar novos horizontes”.

Faz parte dos projetos em andamento potencializar o turismo de experiência, além de abraçar esses novos empreendimentos turísticos que vão surgindo. “Temos que apoiar o que vem de novo, como por exemplo as cervejarias”, disse ao anunciar que o Sebrae (junto com o Montanhas Convention e a Secretaria Municipal de Turismo) tem a intenção de fazer ainda este ano um evento Estadual de Cerveja, além de outros que apoiem a Micro e Pequena Empresa.

Também faz parte das estratégias para fortalecer o turismo, atrair o público que frequenta o entorno num trabalho a ser feito em parceria com o Convention. “Temos que fortalecer o potencial existente e assim distribuir esse fluxo, pois tem público e atrativo para todo mundo”.

De acordo com Christina o público frequentador está identificado e documentado, tanto que vem quanto o que procura. “É fundamental nos preparar para receber essa galera. Temos beleza natural e temos condições de ter estrutura. Se quisermos ser comparados com Gramado, por exemplo, os empreendimentos terão que entender que é preciso viver em função disso e tratar o turista de forma que se sinta especial”.

De acordo com Christina, a região tem um índice alto de mulheres empreendendo, seja por oportunidade ou por necessidade. “Às vezes elas começam para ajudar no orçamento familiar e depois percebem serem capazes de produzir mais renda do que a fonte oficial. São boas surpresas. São boas histórias para contar”.

Christina conhece as dificuldades das mulheres. De como elas batalham para inovar numa luta para equilibrar os pratos do empreendedorismo, da saúde, da autoestima, dos cuidados com a família. “Elas tomam conta de todos e de tudo e precisam se cuidar”.

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