Agricultura familiar: a vez de fazer vendas online
Uma rede de vendas da produção que começou a decolar com o agroturismo, ganhou força na Feira do Produtor e agora se deslancha via redes sociais e aplicativos
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Hiago exibe algumas das variedades de alface. O plantio fica na parte mais alta da propriedade da família: o frio, a água limpa e a terra fértil, somados ao bons tratos culturais, resultam em folhagens lindas e robustas. |
Com a suspensão temporária da Feira do Produtor Rural, várias famílias tiveram que se virar para se reconectarem com seus clientes para não perder seus produtos. Várias dessas, que já amargavam a queda significativa de turistas em suas propriedades, tiveram nas redes sociais e aplicativos a saída para divulgação e na entrega em domicílio uma alternativa de reconexão com seus clientes.
Quando a pandemia chegou (e mudou a regras de convivência no interior), em Venda Nova, assim como em outros municípios de economia agrícola, as produções estavam em andamento nas hortas, plantios e agroindústria. Esse é o caso da família de Alvécio Falqueto, em Alto Bananeiras, que comercializa sua produção com a marca Tio Vé.
Hiago Zambão Falqueto, filho responsável pelas hortaliças (enquanto seu irmão Alonso cuida do abacate), disse que quando a feira foi interrompida, tinha muita verdura plantada: vários tipos de alface, rúcula, brócolis, alho poró, dentre outras. Alguns clientes acostumados a buscar os produtos na banca começaram a ligar o que rendeu a entrega em dez lugares na primeira vez. “Na outra semana entregamos para mais 15 e teve um dia que entreguei verduras em 40 casas. Passamos a fazer entrega em dois dias para dar conta: terças e sextas-feiras”, relata.
Para Hiago, esse comportamento vai se manter, mesmo com o retorno da Feira, considerando que grande parte essa clientela é nova. “Aproveito o dia da colheita para fazer as entregas da verdura fresca. É importante entregar rápido. São dois dias de trabalho intenso para a entrega, mas isso nos garante mais liquidez e tenho a vantagem da venda direta para o consumidor”.
É fácil fazer os cálculos e perceber que a venda direta paga o produto com mais justiça, valorizando o trabalho da família. Para Hiago, a pandemia aproximou a clientela vendanovense, que passou a procurar as famílias ligadas ao agroturismo e à agroindústria, tanto esperando receber os produtos em casa quanto interessadas em conhecer a propriedade ao buscar pessoalmente suas encomendas.
Essa aproximação, além de gerar uma relação de confiança entre produtor e consumidor, se tornou também uma nova forma de divulgar outros tipos de produto, como os elaborados embutidos: socol e linguiça.
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O carisma e o bom humor de Alvécio Falqueto encantam
os turistas. Ele, que aprimorou a receita de socol de
família, conseguiu envolver os três filhos e passa seus
saberes para os bisnetos de Fioravante Caliman (que
foi um expert na produção de socol).
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Essa parte da produção fica por conta de Thaís, também filha de Alvécio. A família, que tem tradição e guarda as receitas a sete chaves, investiu numa estrutura enorme de armazenamento das peças de socol, assim como em uma câmara de resfriamento.
Os embutidos atendem redes de supermercados na Grande Vitória e a família está fechando parceria com lojas especializadas em produtos do agroturismo e da agroindústria. Mais uma vez o foco é comercializar com quem remunera melhor esse produto de alto valor agregado.
Assim como as culturas de hortaliças e frutas, a produção de socol estava de vento em popa quando a paralização pela pandemia chegou à região. “Se não fosse a pandemia, não teríamos dado conta de atender a demanda”, observa Hiago.
A família criou uma página no Instagram, que também fica sob a responsabilidade Thaís. Ela posta os produtos, assim como divulga receitas e dicas de como consumir.
Para a secretária de Turismo de Venda Nova, Carla Caliman, é muito importante que os produtores lancem mão de tantas ferramentas de aproximação. E essa 'descoberta' dos atrativos pelos locais e por mais moradores da Grande Vitória se chama turismo doméstico, um dos reflexos da pandemia. Toda essa movimentação diferenciada passou a ser sentida nas duas primeiras semanas de julho. “Tivemos um leve aumento. Isso se deve ao frio, que é a nossa alta temporada nas Montanhas do Espírito Santo”.