Academia, cooperativismo e família: um tripé poderoso
O papel motivador do meio acadêmico é voltado para que os estudantes sejam empreendedores rurais, alavancando negócios sem sair do campo
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O professor Aldemar Polonini Moreli destaca o papel do Ifes, do Sicoob e
das famílias na construção de uma nova realidade na região. Ele ainda salienta
que os jovens envolvidos constituem exemplos na
sucessão familiar na gestão das propriedades. (Foto Wanda Ferrera/Jean Davies)
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Para o professor do Ifes Aldemar Polonini Moreli, o trabalho feito em parceria entre o Ifes, o Sicoob e as famílias está mudando o conceito do café da região lá fora. Ele se refere ao mercado internacional que já se relaciona com a produção local e agora presta ainda mais atenção com a vitória de um café de Venda Nova como o melhor do Brasil Cup of Excellence 2020.
Ele destaca nessa relação de persuasão o papel da academia (Ifes), do cooperativismo (Sicoob) e das famílias (dos alunos ou não), que desempenham papeis diferentes e fundamentais para construir essa nova realidade na cafeicultura da região. “Vivemos um momento diferente como os professores com títulos de doutor se dedicaram ao projeto, como o Sicoob acreditou na proposta e como as famílias agiram com seus filhos. Elas abriram mão da mão de obra deles para a evolução deles. Isso é transformador”.
“Todos esses jovens são filhos de produtores acostumados ao formato antigo de gerir as propriedades e a educar sua prole. À medida que tiveram oportunidades, com mão de obra familiar e o patrimônio que a família já possui, entenderam que seria possível, empregando tecnologias, obter excelentes resultados, porque o fator produção já existe. Eles alavancaram o negócio sem sair do campo”, avalia.
Polonini Moreli destaca o papel motivador da academia voltado para que esses estudantes sejam empreendedores e não empregados. “Essa experiência os fez entender que constituir seu próprio negócio, investir nele, no avanço tecnológico, na lacuna aberta da produção de cafés especiais é um fator preponderante’’.
Ex-bolsistas se destacam como provadores
Toda a evolução no processo produtivo também contou com a ajuda da Associação Brasileira de Cafés Especiais, onde vários alunos do Ifes se formaram como Q-Grader, provador de café qualificado, controlado e profissionalmente treinado pelo Coffee Quality Institute (CQI).
Segundo Lucas, a parceria com a BSCA foi essencial devido à necessidade de formar Q-Graders para fazer as análises sensoriais com certificação. Nesses seis anos de parceria, foram graduados seis alunos como bolsistas, que hoje fortalecem a produção familiar, atuam no setor privado como empreendedores ou estão concluindo sua formação acadêmica.
O campus do Ifes de Venda Nova se transformou em um grande celeiro de formação de provadores de cafés especiais e capacitador de jovens produtores. A experiência de participar do Lapc dão aos estudantes segurança para influenciar a família a promover melhorias nas práticas no pós-colheita e a fazer investimentos em unidades de processamento (lavadores, secadores e terreiros suspensos), usando os recursos disponíveis da propriedade.
Luiz Henrique Bozzi Pimenta (membro da família campeão no Cup of Excellence 2020) está entre os ex-alunos que se destacam no mercado de café depois que concluir sua graduação. Além de participar de concursos como provador, ao fazer o curso conseguiu entender o que a família estava produzindo. Com a visão mais ampla, pode vislumbrar onde a produção de sua família poderia chegar, quais mercados poderia buscar e o que poderia ser feito para posicionar o café produzido pela família neste mercado.
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João Paulo Marcate, Luiz Henrique Bozzi Pimenta de Sousa, Dério Brioschi Júnior
e Phelipe Bruneli Brioschi. Os três primeiros são ex-bolsistas do Lapc e graduados em
ciência e tecnologia de alimentos no Ifes, sendo todos de famílias de cafeicultores.
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O professor Moreli salienta o fato de esses jovens se constituírem exemplos de sucessão familiar bem-sucedida. “Através dos treinamentos dados com os cursos de cafés especiais, temos conseguido levar inovações para o campo, o que é o maior desafio da geração de tecnologia. A academia a gera, mas a extensão tem dificuldade em empregar. Porém, através desses treinamentos, conseguimos trazer pai e filho até a academia e a melhor absorção por parte dos jovens tem alavancado o campo”, pontua.
Vale reforçar que essas famílias dos estudantes e também as que fazem cursos e treinamentos oferecidos pelo Lapc têm as portas abertas para conhecerem todos os processos no Ifes. “As famílias vêm ver de perto para acreditar no que os filhos levam de informação para casa. Eles mostram para os pais como é importante investir em tecnologia”, ressalta Moreli.
Para o professor, essa vitória do café vendanovense vem para mexer com o brio do cafeicultor ao reforçar que ele é capaz de ir além, bastando acreditar no emprego da tecnologia. E mesmo sem premiações e títulos, as contas demonstram que vale a pena fazer transformações e investir em cafés especiais. “Um produtor que colhe 500 sacas por ano e vende cada uma no valor de R$ 400,00 em média, com um investimento de R$ 20 a R$ 30 mil, pode vender pelo menos 50% da produção em uma unidade de processamento como cafés especiais. E isso pode resultar em um valor agregado de R$ 200,00 por saca, gerando um extra de R$ 50 mil, o que ultrapassa os investimentos em pelos menos R$ 20 mil em uma única safra. Tudo depende do empenho do produtor”.