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A úlcera péptica e a importância da erradicação da H.pylori

A úlcera péptica e a importância da erradicação da H.pylori

Data de Publicação: 27 de setembro de 2019 18:26:00 De acordo com a gastroenterologista Giovana Gomes Silveira, o problema pode aparecer em qualquer idade, incluindo bebês e crianças, mas são mais comuns em adultos de meia-idade

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Úlcera péptica é a erosão em um segmento de mucosa gástrica, classicamente no estômago (úlcera gástrica) ou nos primeiros centímetros do duodeno (úlcera duodenal), que penetra na muscular da mucosa.

Praticamente todas as úlceras são causadas por Helicobacter pylori ou uso de anti-inflamatório não esteroides ( AINEs). Os sintomas consistem tipicamente em dor epigástrica em queimação, que em geral é aliviada com a alimentação. O diagnóstico é por endoscopia e teste para H. pylori. O tratamento consiste em supressão ácida, erradicação de H. pylori (se presente) e abstenção do uso de AINEs.

O tamanho das úlceras pode variar de vários milímetros a vários centímetros. As úlceras se diferenciam das erosões pela profundidade da penetração; as erosões são mais superficiais e não envolvem a mucosa muscular.

Etiologia - H. pylori e os AINEs prejudicam as defesas e a capacidade de reparação da mucosa, tornando-a     mais suscetível ao ácido. 

H. pylori é a causa da infecção em 50 a 70% dos pacientes com úlcera    duodenal e em 30 a 50% dos pacientes com úlcera gástrica. Quando se erradica H. pylori, somente 10% apresentam recorrência da doença, comparados a 70% em pacientes tratados com supressão ácida isoladamente. O uso de AINEs responde por mais de 50% das úlceras pépticas.

O tabagismo é um fator de risco do desenvolvimento de úlceras e suas complicações. O tabagismo também interfere na cicatrização e aumenta a incidência de recorrência. O risco se correlaciona ao número de cigarros fumados por dia.

Embora o álcool seja um potente estimulante da secreção ácida, não existem dados definitivos ligando o consumo moderado ao desenvolvimento ou aumento do tempo de cicatrização. Bem poucos pacientes têm hipersecreção de gastrina causada por gastrinoma (síndrome de Zollinger-Ellison).

Antecedentes familiares estão presentes em 50 a 60% das crianças com úlcera duodenal.

Sinais e sintomas

Os sintomas dependem da localização da úlcera e da idade do paciente; muitos pacientes, em particular os idosos, têm poucos ou nenhum sintoma. A dor é o sintoma mais comum, em geral localizada no epigástrico e aliviada com a alimentação ou uso de antiácidos. A dor é descrita como queimação ou corrosão ou sensação de fome, algumas vezes.

Os sintomas da úlcera gástrica não seguem um padrão. Isto é especialmente verdadeiro para úlceras do canal pilórico, que em geral são associadas a sintomas de obstrução (como distensão, náuseas, vômitos) causados por edema e cicatrização.

As úlceras duodenais tendem a produzir uma dor mais consistente. A dor está ausente ao acordar, mas aparece no meio da manhã e é aliviada pela alimentação, mas recorre 2 a 3 horas depois da refeição. Dor que acorda o paciente no meio da noite é comum e sugestiva de úlcera duodenal.

Em neonatos, perfuração e hemorragia podem ser as primeiras manifestações de úlcera duodenal. A hemorragia pode também ser o primeiro sinal na infância, embora vômitos de repetição ou evidência de dor abdominal possam ser sugestivos.

Úlcera duodenal

O diagnóstico de úlcera péptica é sugerido pela história do paciente e confirmado por endoscopia. Em geral, o tratamento empírico inicia-se sem diagnóstico definitivo. Entretanto, a endoscopia permite biópsias ou escovado para citologia gástrica e lesões esofágicas, para a diferenciação de simples ulceração e câncer gástrico ulcerado.

O câncer gástrico pode estar presente com manifestações similares e deve ser excluído, em especial nos pacientes acima de 45 anos de idade, com perda de peso ou que referem sintomas intensos ou refratários.

A incidência da úlcera duodenal maligna é baixa, assim não se justificam biópsias das lesões duodenais. Endoscopia também pode ser usada para o diagnóstico definitivo da infecção por H. pylori, que deve ser estabelecido quando a úlcera é detectada.

Deve-se considerar câncer secretor de gastrina e gastrinoma quando há múltiplas úlceras, quando as úlceras se desenvolvem em locais atípicos (p. ex., pós-bulbar) ou são refratárias ao tratamento, ou quando o paciente apresentar diarreia ou perda de peso proeminente. Os níveis de gastrina sérica devem ser medidos nesses pacientes.

Complicações

Hemorragia- Hemorragia leve a intensa é a complicação mais comum da doença ulcerosa péptica.

Perfuração livre- Úlceras que perfuram para a cavidade abdominal não limitada por aderências em geral estão localizadas na parede duodenal anterior ou, com menos frequência, no estômago.

Obstrução gástrica distal - Pode ser causada por fibrose, espasmo ou inflamação por uma úlcera. Os sintomas incluem vômitos recorrentes em grande quantidade, de aparecimento mais comum no final do dia e com frequência até 6 horas após a última refeição. Perda de apetite com persistência de distensão ou sensação de plenitude estomacal após se alimentar, sugere obstrução distal gástrica. Vômitos prolongados podem causar emagrecimento, desidratação e alcalose.

Recorrência-  Fatores que afetam a recorrência ulcerosa incluem falha na erradicação de H. pylori, uso de AINE e tabagismo. Portanto, um paciente com doença recorrente deve ser testado para H. pylori e tratado novamente se os testes forem positivos.

Câncer de estômago-  Pacientes com úlceras associadas a H. pylori apresentam riscos três a seis vezes maiores de processo canceroso gástrico posteriormente.

Tratamento: erradicação de H. pylori e uso de fármacos supressores de ácidos

O tratamento das úlceras gástricas e duodenais requer a erradicação do H. pylori quando presente e redução da acidez gástrica. Para úlceras duodenais, é particularmente importante a supressão da secreção ácida noturna.

Os métodos de diminuição da acidez incluem um grande número de fármacos, todos eficazes, mas cujo custo, duração de tratamento e conveniência posológica são variáveis. Além disso, podem ser usadas medicações protetoras da mucosa gástrica  e cirurgias com o intuito de diminuir a produção de ácido. O tratamento farmacológico será discutido na Tratamento farmacológico da acidez gástrica.

 

Adjuntos

Tabagismo deve ser interrompido e consumo de álcool deve ser descontinuado ou limitado a pequenas quantidades de álcool diluído. Não existem evidências de que a mudança de dieta acelere a cicatrização das úlceras ou evite a recorrência. Assim, muitos clínicos recomendam que se eliminem somente os alimentos que causam algum desconforto.

Cirurgia

Com a atual terapia farmacológica, o número de pacientes que necessitam de cirurgia diminuiu drasticamente. São ainda indicações cirúrgicas os casos de perfuração, obstrução, sangramento não controlado ou de repetição e, embora raros, sintomas não responsivos ao tratamento farmacológico.

O teste respiratório na identificação do H.Pylori, bactéria que ataca o estômago e o duodeno

Exame é de alta tecnologia,  indolor e não emprega componentes radioativos

O teste respiratório da ureia marcada com carbono 13 ou 14 é um excelente aliado no controle de erradicação do H. pylori pós-tratamento, principalmente nos pacientes com gastrite crônica avançada associada à bactéria. Trata-se de uma alternativa segura e menos invasiva para o paciente.

Muito conhecido como H. pylori, o Helicobacter pylori (descoberto em 1982 pelos patologistas australianos Robin Warren e Barry J. Marshall) a bactéria tem o poder de se alojar na mucosa gástrica, causando úlceras no estômago ou no duodeno, infecção gástrica e inclusive câncer no estômago.  O que antes era visto apenas como uma infecção estomacal relacionada ao estresse, acompanhado pelo estilo de vida, os pesquisadores conseguiram identificar e a doença, que passou de crônica a curável.

De acordo com a gastroenterologista Giovana Gomes Silveira, quando o H. pylori instala-se no estômago ou intestino, prejudica a barreira protetora e ocasiona a inflamação, gerando sintomas como queimação gástrica, dor, náuseas, sensação de peso e plenitude gástrica, eructação com maior frequência. Nos casos mais graves aparecimento de sangue nas fezes, perda de apetite e peso.

Teste seguro e indolor

O teste respiratório é um exame de alta tecnologia e indolor, não emprega componentes radioativos e o paciente não necessita de sedação e nem de acompanhante durante o processo. Outro ponto importante é que o teste não possui contraindicação, podendo ser executado em gestantes, mulheres que estiverem no processo de amamentação e até em crianças.

Com resultado rápido e realizado em apenas 30 minutos, o teste é efetuado através da coleta de gases após o paciente ingerir a ureia marcada com carbono 13, diluída com suco de laranja ou maçã. Caso haja presença do H. pylori, a   ureia gera a produção de amônia e bicarbonato. A partir desse estágio, o bicarbonato invade a corrente sanguínea e assim é expelido pelo pulmão no formato de CO² marcado. De grande precisão, o resultado é liberado emtrês minutos.

Causas, prevenção e diagnóstico

 “Além de ser transmitido por meio de alimentos mal higienizados e água contaminada, o H. pylori também pode ser propagado de pessoa para pessoa via contato com saliva, vômito ou fezes”, explica Giovana.

A gastroenterologista esclarece que o diagnóstico para descobrir a existência da bactéria pode ser feito através de exames de sangue, fezes, teste respiratório e endoscopia digestiva alta (esôfago, estômago e duodeno).

A especialista enfatiza que o tratamento dura em média, em torno de sete a 14 dias, com uso de medicamentos para abolir a produção de ácido no estômago e assim, estimular a cura das feridas, associada a antibióticos  para erradicação da bactéria.

“Depois de consultar um gastroenterologista e seguir suas orientações médicas, é muito importante lavar sempre as mãos e manter a higiene dos alimentos, utensílios domésticos e do ambiente, para evitar o risco de contrair a infecção”, frisa a doutora.

Pontos-chave

Úlceras pépticas afetam o estômago ou o duodeno e podem ocorrer em qualquer idade, incluindo a infância e a adolescência. A maioria é causada por infecção por H. pylori ou uso de AINEs. Ambos os fatores rompem a defesa normal e impossibilitam o reparo da mucosa, tornando-a mais suscetível ao ácido.

A dor em queimação é comum; alimentos podem piorar os sintomas da úlcera gástrica, mas aliviar os sintomas da úlcera duodenal.

As complicações agudas incluem hemorragia e perfuração GI. As complicações crônicas incluem obstrução da saída gástrica, recorrência e, quando a infecção por H. pylori é a causa, câncer de estômago.

O diagnóstico é feito por endoscopia e testes para H. pylori.

Receitar fármacos supressores de ácidos e tratamento para erradicar o H. pylori.

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