A força feminina na gestão da Pousada Vovó Dindinha
GZILENE Rebuli aposta num atendimento de proximidade para deixar os hóspedes à vontade para explorar a ruralidade de uma antiga fazenda de café
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Ao chegar na propriedade da família Saiter, no Vargedo, em Afonso Cláudio, impressiona a imagem da fileira de casinhas cuidadosamente pintadas e com flores em seu entorno. Com uma história de cultivo de café, a fazenda já contou com uma estrutura imponente para abrigar as famílias par-ceiras que tocavam a atividade. E é essa estrutura que foi repaginada e hoje acolhe visitantes, gerando uma nova riqueza para todo o entorno da Pousada Vovó Dindinha.
Um projeto de sucesso que tem em sua continuidade o protagonismo de Gzilene Rebuli. Ela que, junto a seu filho Jorge D'Avila Seith Filho, toca a gerência do empreendimento, mantém a família unida e se move como uma das lideranças da comunidade.
Para contar um pouco da história dessa mulher tão admirada por quem a conhece, temos que retroceder e registrar que o projeto da Pousada foi iniciado pelo então casal Gzilene e Jorge D'Avila Saiter. A pousada, que começou para aproveitar uma estrutura subutilizada, conquistou as pessoas, principalmente pelo bom acolhimento e pela culinária, e a comunidade ao seu entorno, ao valorizar as produções agrícolas e da agroindústria dos vizinhos.
Com essa sinergia com os visitantes e também com os vizinhos, a Pousada Vovó Dindinha fez o calendário de eventos da comunidade se fortalecer, bem como a movimentação religiosa, que circula em torno da capela que o empreendimento tomou à frente para ajudar a revitalizar. Quando Gzilene e Jorge, que têm três filhos (Salomão, Jorge e Gabriela), deixaram de ser um casal, ela permaneceu morando na propriedade e cuidando dos interesses da pousada juntamente com os filhos.
Ao filho Jorge, que é fisioterapeuta e atua como agente comunitário de saúde, cabe a organização financeira da pousada. Salomão, que é farmacêutico, auxilia no acolhimento e atendimento aos turistas, enquanto Gabriela, que é cozinheira na Itália, atua na cozinha no período em que não está fora do país. Já o relacionamento com os clientes e os fornecedores, as compras, o controle de reservas e a gestão prática da pousada ficam por conta de Gzilene.
Somando as casinhas e os quartos da casa principal, a pousada tem a capacidade de hospedar 65 pessoas. Além das casinhas adaptadas para hospedagem, a fazenda mantém outras para moradia de familiares, como os filhos de Gzilene, de funcionários e de parceiros da fazenda. E esta mistura agrada aos visitantes, que vivenciam a rotina da vila.
Também agrada aos visitantes serem recebidos pela simpática Gzilene que, apesar já ter três netas e de recentemente ter completado 60 anos, fala com a doçura de quem ainda vê o mundo com o entusiasmo da novidade. É dessa mesma forma que ela lida com a sua equipe de trabalho e com as pessoas da comunidade que a procuram.
Quem vê toda disposição de Gzilene em recepcionar os hóspedes, que em finais de semana comuns chegam no final da tarde de sexta-feira, não imagina a rotina de trabalho enfrentada para deixar a pousada em dia para receber. “A segunda-feira é o nosso domingo, dia que tiramos para descansar e também para os cuidados pessoais”.
Na terça-feira começa a rotina que inclui a abertura para novas reservas, obrigações de cunhos burocráticos e bancários, limpeza das casinhas e das suítes, compras, organização dos estoques, preparo de biscoitos e pães, dentre outros trabalhos. “Às 16 horas de sexta-feira tudo precisa estar pronto, pois começam a chegar os primeiros hóspedes. Geralmente eles chegam sexta e saem aos domingos, podendo esses dias se estenderem em caso de feriados”.
A hospedagem na Vovó Dindinha inclui café da manhã, almoço, café da tarde e jantar, que geralmente é um caldo. Também faz parte da rotina música ao vivo aos sábados à noite, geralmente garantida por músicos da região que tocam principalmente moda de viola, música sertaneja ou MPB. “Têm para todos os gostos. Conforme disponibilidade dos músicos, procuramos encaixar o estilo musical com o perfil dos hóspedes, que geralmente vêm em grupo”.
De acordo com Gzilene, o público da pousada pode ser definido como 'o tipo que quer paz e comida boa'. “São pessoas que procuram nossa hospedagem em busca de descanso. Geralmente chegam, estacionam o carro e só voltam a dirigir quando vão embora. Eles andam pela propriedade, fazem passeios de trator... Oferecemos um passeio de trator até o Sítio Canaã, onde os visitantes conhecem todo o processo de produção do queijo, que começa com o manejo do gado e vai até a peça ser prensada”. Nesse lazer de descanso, o hóspede pode ainda curtir a piscina e andar de bicicleta tranquilamente.
Todos os alimentos consumidos na pousada são produzidos na própria cozinha e servidos no fogão a lenha. São receitas simples e caseiras, que são consideradas um dos pontos fortes pelos hóspedes, que se tornam frequentadores em diferentes oportunidades. Os pães caseiros são as estrelas, tanto no café da manhã como no da tarde. Já à noite, os caldos e sopas reinam, sejam de inhame, de variados legumes, capelete ou em forma de 'pela égua', a famosa canjiquinha.
Faz alguns anos que Gzilene conseguiu formar uma equipe e deixar de trabalhar diretamente na cozinha. Ela acompanha todos os processos de perto e, apesar de tantas obrigações, acha tempo para fazer parte da equipe de liturgia, que cuida das celebrações na capela da comunidade. Ela também faz parte da associação de moradores, que é formada em sua maioria pelos mesmos membros da igreja. “Somos em cinco ou seis pessoas, resolvemos o que for preciso para manutenção e melhorias na comunidade, além da promoção dos eventos festivos”.
Festas
Uma das festas mais famosas promovidas na comunidade é a da pa-droeira Nossa Senhora Aparecida, no dia 12 de outubro. Fora do cunho religioso, se destaca o Festival Nacional de Viola do Vargedo - Fenavivar, promovido anualmente desde 2016, sempre em meados de setembro.
A organização do Fenavivar abre as inscrições para os músicos interessados em disputar com uma música original e inédita, sempre no segmento viola raiz, mesmo que de outro compositor.
Essas músicas passam pelo crivo de uma comissão e somente seis duplas de violeiros são selecionadas para se apresentarem. Na sexta-feira, as duplas apresentam três músicas, sendo duas de aquecimento (conhecidas do sertanejo raiz), e em seguida a música inédita para apreciação e avaliação do corpo de jurados. No sábado, as músicas de aquecimento são diferentes e repete-se a inédita para nova avaliação e a soma dos pontos das duas noites determina a dupla vencedora.
Estima-se um público de 3.000 a 5.000 pessoas nas duas noites do evento. Os moradores locais acolhem os músicos em suas casas, e acabam formando a principal torcida de seus “hóspedes”, e sua alimentação é providenciada pelos colaboradores da comunidade. Pelo palco do Fenavivar já passaram violeiros de diversos estados do país e, é claro, do Espírito Santo. “Devido ao carinho da comunidade e dos organizadores o evento é considerado pelos violeiros participantes como o 'festival mais acolhedor do Brasil'”.
Por tudo que Gzilene relata fica fácil perceber o seu verdadeiro envolvimento com a comunidade, o que explica ela ser uma pessoa tão querida e respeitada. Com formação técnica em contabilidade, Gzilene casou e passou a ser mãe ainda muito jovem, aos 19 anos, o que na época tornou uma vida acadêmica algo fora de seu radar. No entanto, ela aproveitou as oportunidades para aprender e empreender, assim como fez dos desafios, ocasiões de um verdadeiro crescimento.
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