A endocrinologia associada ao bom desempenho nos esportes
Adriana Andrade faz orientação profissional sobre o exercício para os atletas amadores e os de alta performance
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Para Adriana Andrade, o futuro da ciência da performance é o acompanhamento da saúde intestinal. |
Já faz três anos que a médica Adriana Andrade colocou a atividade física em sua rotina de vida, sempre com a supervisão de uma profissional de educação física. Ao abraçar essa prática e passar a desfrutar de uma série de vantagens para sua saúde e qualidade de vida- tanto no âmbito pessoal quanto no profissional, ela passou a se interessar sobre o tema e associar o atendimento em seu consultório, aliando seus conhecimentos sobre hormônios e metabolismo com a fisiologia no esporte.
Atualmente ela mantém musculação três vezes por semana, intercalando funcionais, exercício para ganho de massa muscular, cardiorrespiratórios, conforme orienta sua treinadora, que avalia a necessidade do momento. Adriana está em fase de conclusão de sua pós-graduação “metabolismo no esporte sob a ótica da medicina baseada na prática ortomolecular e nutrigenômica”, pela Fapes, em São Paulo. E, como sabe que mente e corpo funcionam juntos, está cursando o quarto período de psicologia, em Castelo. E mesmo com essa rotina de cursos e atendimentos fora de Venda Nova, ela se mantém fiel aos treinos.
“Eu não pensava numa união da medicina com o exercício, mas, ao longo dessa minha experiência percebi essa lacuna de conhecimento muito grande nas diversas especialidades. Então, fui amadurecendo a ideia e busquei complementar a minha formação com algo voltado ao esporte. Quando procurei o curso queria aprender um pouco mais para ir além de meus motivos pessoais, e a coisa evo-luiu”, diz a médica que está agregando os novos conhecimentos aos atendimentos no seu consultório.
Adriana explica que a endocrinologista com ênfase no esporte associa todos os conhecimentos em hormônios e metabolismo com a fisiologia do esporte, a nutrição e nutrologia esportiva (suplementação alimentar) e as bases do treinamento físico, com a intenção de aperfeiçoar o desempenho dos atletas (recreativos e profissionais), a composição corporal (reduzir gordura e aumentar a massa muscular) e a qualidade de vida.
“O endocrinologista esportivo deve sempre trabalhar em equipe com o nutricionista esportivo e com o educador físico, pois para alcançar o foco desejado o atleta deve ter uma alimentação balanceada e praticar uma atividade física orientada e específica. Estes profissionais não se anulam, mas se potencializam”, faz questão de enfatizar a profissional.
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As principais doenças que a endocrinologia trata estão relacionadas à obesidade e diabetes, ambas impactadas diretamente pelo sedentarismo e pela falta de atividade física. “Eu diria que boa parte das pessoas obesas e diabéticas poderia ser tratada com exercício. Também estou um programa para atender aqueles pacientes que desejam uma orientação profissional sobre o exercício, seja para aumentar o ritmo ou para usar algum suplemento alimentar. São os atletas, tanto os amadores quanto os de alta performance”.
Para Adriana, o exercício pode ser usado como ferramenta para tratar doenças endócrinas ou de uma forma mais próxima à medicina do esporte, com pessoas em busca de melhor desempenho. “Lembrando, ainda, que hoje vivemos uma epidemia: a do uso de esteroide anabolizante, uma abordagem que sou completamente contra”.
Adriana deixa claro que o uso de esteroides e outras substâncias proibidas é deletério à saúde e não deve acontecer sob hipótese alguma. “Não pode haver negociação. Eu considero inadmissível que a medicina participe da promoção de uma estética ou de um corpo perfeito a todo custo. E há também a questão dos profissionais não médicos. A prescrição de um medicamento, seja ele qual for, por não médico já consiste na prática ilegal da medicina. Pior ainda se isso for no contexto de uma substância proibida”.
Os hormônios e os aspectos da função humana
Conforme revelam os estudos, os hormônios produzidos pelas glândulas endócrinas afetam todos os aspectos da função humana: ativam os sistemas enzimáticos, induzem a contração e o relaxamento dos músculos, estimulam a síntese das proteínas e das gorduras e determinam de que maneira o corpo responde ao estresse físico e psicológico.
“A secreção hormonal em geral ajusta-se rapidamente para atender às demandas impostas pelas modificações nas condições corporais. A maioria dos hormônios é liberada de maneira pulsátil, obedecendo intervalos regulares durante um ciclo de 24 horas. Essa secreção sofre interferência de diversos fatores, dentre eles o exercício físico e o sono”, explica Adriana.
Hipófise - Ou glândula pituitária, localizada debaixo da base do cérebro, secreta hormônios especializados em estimular outras glândulas do corpo, sendo com frequência denominada ‘glândula mestre’. Ela age sob estímulo neural do hipotálamo, região nobre do sistema nervoso central.
Hormônios tireóideos - A tireoide está localizada no pescoço e produz os principais hormônios metabólicos, a tiroxina (T4) e tri-iodotironina (T3), a forma ativa do hormônio. Graças ao seu efeito estimulante sobre a atividade enzimática, esses hormônios aceleram o metabolismo de quase todas as células, exercendo poderoso efeito termogênico e produzindo grandes desvios na taxa metabólica basal.
Paratormônio (PTH) - Produzido pelas paratireoides, controla o equilíbrio do cálcio no sangue, cuja principal função é modular a condução dos impulsos nervosos, a contração muscular e a coagulação do sangue. Algumas evidências sugerem que a atividade física aumenta a liberação de PTH.
Hormônios da medula suprarrenal - Esses hormônios afetam o coração, os vasos sanguíneos e as glândulas, resultando em maior atividade sobre a distribuição do fluxo sanguíneo, a contratilidade cardíaca e a mobilização de substratos energéticos.
Hormônios do córtex suprarrenal – Aldosterona (mineralocorticoide) - Regula os sais minerais sódio e potássio no líquido extracelular. O equilíbrio mineral apropriado mantém a transmissão nervosa e a função muscular.
Cortisol (glicocorticoide)- Afeta o metabolismo da glicose, das proteínas e dos ácidos graxos livres. A secreção do cortisol alcança um pico pela manhã e diminui à noite, aumentando em situações de estresse, jejum e exercício físico intenso. Seus níveis cronicamente elevados no sangue iniciam o fracionamento excessivo das proteínas e o desgaste dos tecidos, resultando, com isso, na perda de massa muscular. Seus níveis permanecem elevados por até duas horas após a realização de uma atividade física.
Desidroepiandrosterona (androgênio) - Exerce efeitos semelhantes aos do hormônio masculino dominante, testosterona. Parece aprimorar o bem-estar e a responsividade sexual, além de reduzir a depressão e a ansiedade.
Hormônios gonádicos - Os testículos no homem e os ovários na mulher são as glândulas reprodutoras, produzindo os hormônios que promovem as características físicas sexo-específicas e desencadeiam e mantêm a função reprodutora .
Testosterona - Exerce efeitos diretos sobre a síntese do tecido muscular, além de estimular a liberação de GH e aprimorar a capacidade produtora de força do músculo esquelético. A atividade física eleva seus valores no sangue.
Estrogênios - O estradiol-17B acelera a mobilização dos ácidos graxos livres a partir do tecido adiposo e inibe a captação da glicose pelos tecidos periféricos. Dessa forma, seu aumento durante a atividade física exerce influência metabólica semelhante ao GH.
Insulina - Produzida pelo pâncreas, regula a entrada de glicose em todos os tecidos (principalmente células musculares e adiposas), com exceção do cérebro. A interação entre glicose e insulina funciona como um mecanismo de feedback que irá manter a concentração sanguínea de glicose dentro de limites estreitos. Há inibição da produção de insulina durante a atividade física, evitando a queda da glicemia e mobilizando progressivamente mais energia dos ácidos graxos livres (gordura).
Disbiose intestinal: como o microbioma intestinal afeta o desempenho atlético
O microbioma intestinal desempenha um papel significativo na inflamação - aumentando ou diminuindo os níveis-, que interfere no desempenho atlético, retarda a recuperação e é a causa raiz de muitas doenças crônicas. O desequilíbrio do microbioma intestinal, ou disbiose, está associado a condições inflamatórias. “Por isso é importante manter um microbioma saudável para ajudar a reduzir a inflamação em todo o corpo”, alerta Adriana.
De acordo com ela, estudos mostram que melhorar o equilíbrio do microbioma reduz a inflamação sistêmica, o que proporciona alívio de curto prazo e redução de risco de longo prazo. “Manter o equilíbrio e melhorar a diversidade do microbioma também fornece um ambiente mais estável, o que reduz o impacto do estresse repetido que os atletas colocam em seus corpos. Quando se trata de inflamação, o microbioma intestinal pode trabalhar a favor ou contra o esportista”.
Adriana reforça que quando o microbioma intestinal saudável ajuda a aumentar os níveis de energia, o que pode se traduzir em um melhor desempenho ao reduzir a fadiga, através de uma melhor degradação do ácido láctico; Controlar a função redox, que pode retardar os sintomas de fadiga; Aumentar os níveis de ATP e fornecer metabólitos essenciais para suas mitocôndrias - a força motriz das células.
A nossa função cerebral também é influenciada pela microbiota intestinal. Adriana explica que ela é responsável pela produção de grande parte das substâncias neuroquímicas, como serotonina e dopamina, que o cérebro utiliza para regular alguns processos, como aprendizagem, memória e humor.
“A ciência tem mostrado que a relação entre o hospedeiro - o homem – e sua microbiota é uma via de mão dupla e bastante complexa. A microbiota afeta o hospedeiro e o inverso também. Por isso é importante eliminar alimentos que contenham agrotóxicos, praticar atividade física regularmente, ter uma dieta rica em fibras (como frutas, verduras e legumes) e com menos (e se possível, sem) produtos industrializados e açúcar”, salienta Adriana.
Já para o uso de medicamentos, ela afirma que o médico pode prescrevê-los para harmonizar as bactérias boas e ruins do intestino.
Para promover a saúde do microbioma intestinal, uma das melhores medidas é trabalhar para melhorar a diversidade do seu microbioma intestinal e, para isso antes é preciso conhecer a sua composição. Existe um exame que gera um relatório personalizado com os dados sobre a complexa comunidade de bactérias que compõem a microbiota intestinal do paciente. São informações direcionadas às necessidades individuais de saúde e, a partir dessa ‘fotografia’, o profissional da saúde pode personalizar a dieta e nutrição do atleta e potencialmente impactar seu desempenho.
Estresse oxidativo
Estresse oxidativo é o nome que se dá ao desequilíbrio entre os radicais livres e os antioxidantes em seu corpo. A falta de balanço entre esses dois elementos pode causar envelhecimento precoce e levar a uma série de doenças.
Os radicais livres são moléculas que contém oxigênio em um número desigual de elétrons, o que lhes permite reagir facilmente com outras moléculas. Isso pode causar reações químicas em cadeia, a chamada oxidação, que pode ser benéfica ou prejudicial. Os antioxidantes, por sua vez, são moléculas que podem doar um elétron para um radical livre sem se tornarem instáveis. Isso faz com que o radical livre se estabilize e se torne menos reativo.
Em condições ideais, esse processo de troca de elétrons entre radicais livres e antioxidantes mantém o bom funcionamento do corpo. Já o estresse oxidativo afeta o funcionamento de todo o organismo e é preciso atenção para gerenciar e prevenir esse desequilíbrio.
Um método para prevenir o estresse oxidativo é garantir que você obtenha antioxidantes suficientes em sua dieta. Comer cinco porções por dia de frutas, legumes e verduras variados é a melhor maneira de fornecer ao seu corpo o que ele precisa para produzir antioxidantes. Entre os exemplos de vegetais ricos em antioxidantes estão as frutas cítricas, ameixa seca, folhas verdes escuras, brócolis, cenoura, tomate e azeitonas. Outros exemplos de fontes antioxidantes são os peixe e nozes, cúrcuma, chá verde, melatonina, cebola, alho e canela.
Optar por um estilo de vida saudável também ajuda a prevenir ou reduzir o estresse oxidativo. A rotina regular e moderada de exercícios, não fumar, evitar produtos químicos (Inclui produtos de limpeza e pesticidas nos alimentos ou na jardinagem), usar protetor solar, reduzir a ingestão de álcool e dormir bastante.