A cirurgia oncológica é parte fundamental no tratamento contra o câncer
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A cancerologista cirúrgica Ana Paula Mazzocco do Nascimento fala da importância do diagnóstico correto para traçar as condutas e tratamentos diante do câncer: cirurgia? radioterapia? quimioterapia? ou à associação das técnicas? As respostas a essas perguntas serão fundamentais para o sucesso do tratamento
Depois de superar o susto de ouvir de um médico que tem câncer, o paciente se dá conta que é preciso traçar qual caminho será trilhado em busca da cura da doença. O tratamento do câncer pode ser feito através de cirurgia para ressecção do tumor, quimioterapia ou radioterapia. Em muitos casos é necessário combinar mais de uma modalidade. O diagnóstico correto realizado por um profissional da área vai definir a linha de conduta e o sucesso do tratamento.
Além das associações de terapias, o diagnóstico correto vai sinalizar a ordem dos procedimentos. “Muitas vezes uma cirurgia precoce impossibilita que as outras terapias possam ser aplicadas depois. A rádioterapia ou a quimioterapia podem reduzir o tamanho do tumor e fazer com que a cirurgia seja menos invasiva e mais eficaz”, alerta a cancerologista cirúrgica Ana Paula Mazzocco.
Ela também descreve a situação inversa. “Dependendo da localização ou do tipo de câncer, a cirurgia é o primeiro passo rumo à cura. Os outros procedimentos vêm com o objetivo de extirpar a doença e diminuir a chance de uma recidiva do tumor. Uma cirurgia no momento errado ou que não segue os princípios oncológicos pode-se mudar o prognóstico da doença”.
A cancerologista ressalta que existem vários tipos de câncer, com diferentes tamanhos e localização. Cada um desses fatores, isolados ou conjugados, vai sinalizar qual tratamento é adequado. “Dependendo do tipo histológico, nem sempre o tratamento será cirúrgico e, quando indicado, deve ser feito por cirurgião especialista em câncer. A cancerologia cirúrgica é capaz de operar todos os tipos de câncer, como os tumores ginecológicos, mama, aparelho digestivo, pele e anexos cutâneos, com exceção dos localizados no sistema nervoso central, que deve ser feita por neurocirurgiões”, ressalta a especialista.
A ansiedade está entre os efeitos psicológicos que o diagnóstico causa no paciente e na família, que têm pressa de lutar pela cura. No entanto, é preciso calma, observação e muita escuta para se traçar um bom planejamento para o tratamento. “Quando a doença é diagnosticada como maligna, a percepção da finitude da vida torna-se uma realidade e sabemos que ainda existe uma crença de que tal diagnóstico está relacionado à dor, a tratamentos invasivos e à morte”.
Mas diferentemente do senso comum, os tratamentos já evoluíram bastante e Ana Paula ressalta que se diagnosticados de forma precoce a grande maioria dos cânceres é curável atualmente e que precisamos combater o estigma de que o diagnóstico é uma 'sentença de morte'.
Outro estigma presente no imaginário popular são os relacionados com os efeitos colaterais dos tratamentos para o câncer. Ana Paula diz que, com o passar dos anos, novos estudos e tratamentos foram lançados acerca das doenças oncológicas. “O que se fazia há dez anos não é feito da mesma forma hoje. Estamos falando de uma área em constante estudo e evolução. Na busca de melhores resultados e menos efeitos colaterais, a ciência vem evoluindo muito e proporcionando novos tratamentos, como é o caso da terapia-alvo, a imunoterapia e novos quimioterápicos”.
Atenta às novidades da ciência
Por acreditar nos novos rumos que a ciência proporciona, ela considera fundamental que os profissionais se atualizem. “Não basta se graduar e se especializar, o profissional comprometido com o seu desempenho sempre estará em busca de novos conhecimentos. Precisamos absorver o que a ciência proporciona e tentar aplicar da forma mais eficaz possível em nossas práticas, proporcionando assim tratamentos mais eficazes, humanizados e individualizados”.
“Apesar de a cirurgia ser um recurso antigo, o tratamento oncológico vem associado à evolução e envolvendo áreas multidisciplinares. Trata-se de uma doença que precisa ser tratada por vários profissionais, além do oncologista precisamos de fisioterapeutas, nutricionistas, fonoaudiólogos e muitos outros envolvidos no processo de reabilitação e cura”.
Para Ana Paula, é importante mostrar ao paciente a existência da possibilidade da cura. “A doença costuma ser um marco na vida das pessoas. Quem passa por um câncer, sabe que a vida é muito mais do que um diagnóstico e que não se trata de uma sentença de morte”.
Nessa relação médico paciente, Ana Paula reforça que cada pessoa cuidada por ela é única. “Sabemos que ela é importante para alguém. Ou é filha, mãe, pai ou irmã/irmão de alguém. A vida deles vale muito”, diz a médica ao afirmar que é impossível não gerar vínculo. “Geralmente são tratamentos longos e, com o seu desenrolar, vamos conhecendo mais as pessoas, suas histórias. Eles merecem e eu as trato com muito respeito”.
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Quem é Ana Paula Mazzocco
Ana Paula Mazzoco é uma vendanovense que nasceu em São Gabriel da Palha, no Norte do Estado. É que ela é filha de uma, Dagma Mazzocco, e aos quatro anos de idade veio de lá junto com sua mãe para morar em Venda Nova, sob a proteção dos avós Marcelino Mazzocco e Arlete Azevedo Mazzocco e dos tios. Ela cresceu numa família numerosa e usufruiu da liberdade de morar no interior, com muitas amizades que se fortaleceram no meio estudantil. Ana Paula estudou até concluir o segundo grau na Coopeducar.
Aos 17 anos foi para Vitória fazer pré-vestibular e de 2011 a 2016 (ano em que se casou) fez medicina na Universidade de Vila Velha- UVV. De março de 2017 a fevereiro de 2019 fez residência em cirurgia geral no Hospital São José do Avai, no Estado do Rio de Janeiro. De março de 2019 a março de 2022, fez residência em cirurgia oncológica, no Hospital Santa Rita, em Vitória.
Validada pelo sucesso nas provas aplicadas, ela está filiada na Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica e na Sociedade Brasileira de Cirurgia Minimamente Invasiva (por vídeo).
“Eu não escolhi as áreas de atuação na medicina. Foram elas que me escolheram. Desde o meu primeiro contato com um centro cirúrgico, ainda estudante, eu soube que era ali que eu atuaria profissionalmente. O mesmo aconteceu com a oncologia, durante minha residência em cirurgia geral percebi que esta seria minha especialidade no meu primeiro contato com a oncologia. Apesar de uma área árdua, poder atuar nesse processo em busca da cura de um paciente oncológico faz todo o trabalho valer à pena”.
Desde 2020 Ana Paula passou a fazer plantões de sobreaviso como cirurgiã no Hospital Padre Máximo, de Venda Nova. “O HPM caminha para que cirurgias oncológicas mais simples sejam realizadas no nosso município. A diretoria tem buscado melhorias no centro cirúrgico e na gestão hospitalar para mostrar que é possível resolver aqui, com excelência, vários casos cirúrgicos. Dessa maneira, quando necessário, os pacientes poderão ser encaminhados pelo Hospital para grandes centros no caso de precisarem de tratamentos complementares”.