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A base da economia e as raízes culturais de Venda Nova representadas na Feira Livre

A base da economia e as raízes culturais de Venda Nova representadas na Feira Livre

Data de Publicação: 26 de abril de 2019 15:59:00 Frutas diversas da estação, verduras limpas e alimentos processados de forma caseira e pelas agroindústrias são oferecidos pelas famílias dos produtores rurais

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Nos finais de tarde de inverno o dia começa a escurecer cedo e as luzes das barracas conferem um tom
bucólico e de aconchego.  O visual colorido das verduras e frutas
fazem lembrar da beleza da simplicidade da vida.

Quando o Município comemora 31 anos de emancipação política, vale lembrar que a agricultura continua sendo um dos mais importantes componentes da economia local. Com predominante mão de obra familiar, o setor evoluiu ao agregar valor à sua produção com o advento do agroturismo e da agroindústria caseira ou de porte maior.

E um retrato dessa realidade é a Feira do Produtor Rural de Venda Nova, onde até três gerações da mesma família expõem e vendem sua produção. Dois pontos chamam a atenção de quem a frequenta: a diversidade de produtos de qualidade e o envolvimento dos jovens, com a presença expressiva e ativa numa atividade antes comumente relegada aos filhos que não saiam para estudar.

Verduras, legumes e frutas frescas formam um colorido especial e, logo atrás das bancas, as famílias dos produtores colocam toda simpatia à disposição em atender as pessoas. Sempre nos finais das tardes de sexta-feira a Feira tem sido uma ótima opção para quem quer abastecer a casa e ao mesmo tempo reencontrar os amigos. Além de oferecer verduras frescas, frutas da estação, biscoitos, bolos, pães, geleias e inúmeros outros itens da agroindústria, o lugar é ponto de encontro entre os moradores e uma excelente oportunidade do visitante interagir com a comunidade local.

As mesas e cadeiras perto da barraca de pastel com caldo de cana convidam para uma paradinha e um bate papo.  É ali que Marlene Sossai Spadeto vende seu famoso pastel com caldo de cana. De origem rural, ela que possui uma chácara e tem suas raízes na vida rural, optou pela produção de massas  como fonte principal de renda.

Marlene e o esposo Djame preparam as massas (capelete e massa para pastel) e os recheios. São 14 sabores, sendo que os mais pedidos são os de presunto e de frango com palmito. Tem ainda o capelete quentinho para quem quer consumir na hora e a barraca também entrega a massa e o caldo congelados para o preparo em casa.

Para dar conta de atender com agilidade aos ávidos apreciadores dos pasteis, Marlene e o marido contam com o apoio das filhas Rose e Michele e com o genro, Alex. “Trazemos alguns pasteis montados para dar conta da grande demanda na primeira hora do atendimento. Marlene se diz realizada, pois sempre sonhou em ter uma pastelaria e viu na Feira uma ótima oportunidade, tendo em vista considerar inviável um ponto fixo para venda diária de pastel com caldo de cana. “Estou realizando um sonho meu”.

Assim como Marlene, o advento do agroturismo (há cerca de 27 anos) e a Feira Livre trouxeram uma importante e regular oportunidade de as famílias rurais gerarem renda, numa relação de ganha ganha entre essa categoria e os consumidores.

Que o diga a família de Alvécio Falqueto, que desce com sua produção de Alto Bananeiras para entregá-la a um preço especial aos consumidores. Sem intermediário, eles buscam o equilíbrio na formação do preço. Numa altitude de 1.060 metros, a família mantém 1,5 hectare com a horta e pequenos plantios, regando tudo com água limpa e praticamente livres de agroquímicos. O manejo cuidadoso da produção em pequena escala propicia essa qualidade.

Hiago Zambão Falqueto, 24 anos, é um dos filhos. Formado em agronomia pelo campus de Alegre da Ufes, optou por trabalhar com a família. Ele reconhece bem o valor desse contato direto com o cliente e está envolvido na produção junto com a irmã Thais, o irmão Alonso e a mãe Rita Zambão. Além da produção da horta, eles fornecem abacate, palmito pupunha, caqui e outra diversidade de frutas da época. A propriedade em si tem dois alqueires produtivo e mais três de mata.  Eles produzem ainda um famoso socol, um dos grandes atrativos da família que recebe turistas nos finais de semana.

Nada mais perto da realidade brasileira do que conhecer pessoalmente a família que cultiva aquela vistosa e deliciosa rúcula.  Muitos passam na propriedade, conhecem o modo de produção e muitas vezes se envolvem na rotina da família visitada. E esse entusiasmo de visitantes e moradores tem sido um estímulo a mais para as novas gerações assumirem os postos dos pais, ficando na propriedade cuidando dos cultivos e das produções caseiras

 

 

 

 

 

 

 

Bem próximo está a produção de Elza Rosa Falqueto, viúva de Vânio Cleto, que conta com o trabalho dos filhos para continuidade da produtividade. Sua filha Vanusa Rosa Falqueto Fracaroli, que produz massas, conta que a propriedade está pleiteando o selo de orgânicos da Organização de Pequenos Produtores  da *OCS. A propriedade sempre foi adepta às práticas orgânicas, até com selo da Chão Vivo já expirado, e novo pleito está sendo feito  através do Incaper local.

Para fazer jus ao selo de orgânicos a propriedade sempre é visitada pelos agrônomos do Incaper e recebe assessoria do escritório de Santa Maria de Jetibá, que é referência em orgânicos no Estado.  

E esse modo de produção é informado ao público consumidor que vai na barraca da família. “O cliente vai direto na barraca e muitas vezes também visita a propriedade para buscar os    seus produtos”, afirma Vanuza. Alface, couve, cebolinha, almeirão, salsinha, beterraba, abobrinha e vagem, dentre outras verduras, de acordo com a estação, compõem o mix de ofertas da família.

Dentro da propriedade, a família mantém uma pequena agroindústria de massas e a dupla Vanusa e Elza aproveita os atributos da beterraba e do espinafre para colorir e dar sabor aos espaguetes. Clientes fiéis vão visitar a barraca toda semana para comprar as massas que são encontradas também em alguns pontos de venda do agroturismo em Venda Nova.

A Feira coloca o produtor em contato direto com o morador e também com o turista, que a frequenta principalmente perto das datas de festas culturais, como a Serenata Italiana (julho) e a  Festa da Polenta (outubro). Lá, eles conhecem os produtores, fazem suas compras e depois vão ver o modo de viver das famílias in loco, nas propriedades rurais.

Sempre no final de tarde de sexta, a Feira oferece verduras frescas, alimentos
caseiros e da agroindústria e o contato direto com quem os produz.

A família de Priscila Brioschi, 26 anos, é outra, cujo modo de produção e de comercialização está relacionado com a Feira e também com o agroturismo. Ela, o irmão de 20 anos, os pais, tios e avós trabalham unidos na propriedade em Providência para fornecer embutidos (socol), defumados (lombo e linguiça), linguiça fresca, queijos, iogurtes e café de qualidade.

Com uma produção de café premiado (vendido em grão ou moído), a família também mantém um curral de vaca de leite e só compra carnes certificadas para produção dos embutidos e defumados. A feira também faz um papel de elo, reforçando o agroturismo, da qual a propriedade é adepta.

“É muito interessante observar que a Feira divulga nossos produtos junto aos moradores, que nem sempre conhecem o que as propriedades rurais oferecem em diversidade de produtos. A feira levou mais turistas para a propriedade, que por sua vez passou a ter um atrativo para indicar ao visitante. Muitos vêm ao município na sexta só para participar da Feira Livre. Lá, eles conhecem outros produtores e saboreiam pastel com caldo de cana”, relata Priscila.

Já a família de Adelcio Klippel, desce da comunidade de Nossa Senhora Auxiliadora, em Alto Tapera, para vender brócolis, alface, vagem, cebolinha, salsinha... Tudo organizado em saquinhos de um ou de meio quilo e em maços depois de recolhidos frescos do plantio especialmente mantido para a Feira Livre. As frutas do quintal, como bananas, goiaba, beribá e jabuticaba também vão para a banca, de acordo com a época do ano.

Adelcio, a esposa e os sogros trabalham o ano inteiro para manter a produção a contento, tendo na Feira a oportunidade de comercializar seus produtos a um preço mais justo para a família e também para os consumidores. O que não é vendido na Feira abastece alguns restaurantes da cidade.

“Por considerar nossos produtos bons, os fregueses sempre voltam para comprar. Eles sabem que são diretos da roça, com uso irrisório e seguro de químicos e vários completamente livres... Somos sinceros com as pessoas e temos uma relação de confiança’’, diz Aldelcio.

Os ovos caipiras e o feijão estão entre os itens mais procurados pelos fregueses. Muitos clientes conhecem o galinheiro e a forma como os ovos são coletados e sabem que a família produz feijão de qualidade. Com o ciclo de seis meses da cultura, pelo menos duas vez por ano, tem feijão fresco capaz de abastecer as famílias o ano inteiro praticamente.

Além da possibilidade de se integrar com os moradores locais, a relação amistosa com os

produtores/expositores rende uma visita posterior às propriedades e boas amizades

 
Além do pastel em vários sabores, várias barracas oferecem pratos
prontos para serem consumidos na hora ou levados para casa. 

No mesmo esquema familiar de  produção, Laerte Roque e Silva, a esposa Maria Lúcia e os filhos tocam a propriedade em Sapucaia. Com uma grande movimentação na quinta-feira, véspera da Feira Livre, o trabalho começa às 4 horas da manhã, com a colheita da verdura na hora, e todos se movimentam para embalar em sacolas de um e de meio quilo. As folhas, como cebolinha e alface,  são colhidas na sexta para não murchar, depois são feitos os maços  para facilitar a comercialização.

De acordo com Luiz Carlos, um dos seus filhos, a família também leva frutas da estação, como mexerica e abacate, para a Feira. Ele diz que a Feira tem apresentado um bom resultado para a família, que tem na venda semanal uma fonte de renda regular e também uma ótima oportunidade de se relacionar com a comunidade. “Conhecemos muita gente e fazemos novas amizades', pontua Luiz Carlos.

Essa mesma alegria em se relacionar com a freguesia é ressaltada por Silvério Zanato Pinholato, da comunidade da Cotia, em São Roque, que diz que faz de tudo para agradar e facilitar a vida de quem vai à Feira Livre comprar seus alimentos. “Separamos em porções para facilitar a compra e também vendemos de acordo com a necessidade da pessoa. Se tiver exposta uma penca de banana e o freguês quiser somente meia dúzia ou uma fruta, assim a vendemos. Tentamos atender no que a pessoa precisa e sempre que podemos ajudamos a carregar as compras”.

A família Pinholato produz tomate, frutas e ovos caipira, sendo que Silvério participa mais na comercialização e ajuda os pais no modo de conduzir a produção.  Ele, que é filho único, diz que a Feira tem sido importante na ressocialização dos pais que acabaram construindo relações de afeto dentro desse projeto comercial.

“É muito raro o uso de adubos químicos e pulverizamos de forma alternativa, com uma solução de água, detergente e açúcar”, diz ao explicar que a água é para dar volume, o detergente para proteger e o açúcar para grudar na planta. “Não é exatamente para combater  pulgas ou moscas, por exemplo, mas para espantar... E encontrar uma 'lesminha' em alguma folha, por exemplo, é sinal de que o alimento está livre do veneno. O consumidor tem essa consciência”, pondera Silvério.

A Feira Livre de Venda Nova traz o que de mais original representa a cultura da

família rural local, assim como seus produtos retratam toda evolução pela qual passou e se propõe a absorver

Na categoria de alimentos processados, as primas Katiane e Ligia Monteverde Falqueto, toda semana levam suas pizzas, pão de queijo, lasanha e empadão congelados. Os itens estão na preferência de quem quer ter um alimento rápido e prático na hora do lanche, quando recebe uma visita ou quando quer descansar da cozinha. 

Para dar conta da produção, elas dedicam meio dia de trabalho e primam por uma massa mais leve. No caso das pizzas, vendidas em pacotes de três e de cinco unidades, a massa é toda aberta manualmente. “Fazemos uma bolinha, que aberta no rolo por unidade, resultando numa massa mais leve e saudável. Já pensamos em usar o cilindro, mas desistimos quando percebemos a necessidade do uso de mais trigo no processo”.

A lasanha e o empadão são oferecidos em pacotes de 500 gramas. Todos são pré-assados e muito procurado no inverno. As opções oferecidas pela dupla passaram pelo teste da cozinha e também pelo crivo da freguesia. “Preenchemos o cadastro da Feira com nossas propostas e fomos colocando os produtos para venda, testando a aceitação. Os mais procurados permaneceram”, diz Katiane.

As duas estão entre os veteranos na Feira, sendo que atualmente Katiane faz parte da atual diretoria na função de vice-tesoureira. Ela que, sempre fez trabalhos voluntários na organização da Feira,  integra a ala mais jovem dos produtores e ajuda no direcionamento geral da Feira.

Mariana Zandonadi Bissoli, atual presidente da Associação da Feira, é responsável por uma das 30 barracas. Ela, que começou vendendo alimentos congelados da linha 'fit', ampliou os horizontes com a marca “Dona Martha Delícias”, lançada junto com sua mãe Marta Amélia.

A marca homenageia a avó, mas também consolida a veia gastronômica que passa de geração em geração da família de Mariana, que tem suas raízes na antiga fazenda Lavrinhas. Casada com o produtor Evandro Falqueto, ela agora mora em Alto Bananeiras, e está integrada à família ligada à produção agrícola e da agroindústria.

As 30 barracas da Feira ficam distribuídas ao longo da rua, especialmente fechada para o trânsito nas horas das vendas. O visitante pode ziguezaguear entre um lado e o outro ou simplesmente visitar uma lateral e depois a outra, conhecendo todas as possibilidades de deliciosas, saudáveis e justas no valor de compra.

Mariana ressalta que todos os feirantes produzem seus alimentos dentro das regras de concessão do alvará sanitário, têm bloco de produtor ou outra documentação que regulariza a sua atividade específica. “Dessa forma, além de produzir renda para as famílias, as atividades geram arrecadação de impostos para o Município”, salienta.

Para participar, o produtor precisa produzir 70% do que leva para a banca, sendo que os 30% restantes têm que ser de algum produtor local. Já os alimentos da agroindústria devem ser 100% originais.

Visando garantir sustentabilidade e vida longa, atualmente a Feira está elaborando o Plano de Gestão, que faz parte da primeira fase do Projeto Mais Gestão, do Governo do Estado, através do Incaper. São dois anos de projeto que irá liberar verba para capacitação dos feirantes para a Feira.

Enquanto busca subsistência para as famílias de produtores, a Feira Livre do Produtor Rural de Venda Nova põe em prática a vocação de trabalho voluntário de Venda Nova. A doação de uma quantia em dinheiro para o último leilão da Apae e de nove cadeiras de banho para a UTI do Hospital Padre Máximo fazem parte das últimas ações da Associação que quer estar integrada aos movimentos sociais que fazem o Município  evoluir.

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