Português (Brasil)

FAMÍLIA SOSSAI - Os aventais de Maria Sossai Guisso e os moinhos do seu filho José

FAMÍLIA SOSSAI - Os aventais de Maria Sossai Guisso e os moinhos do seu filho José

Compartilhe este conteúdo:

Maria Angélica Guisso e sua sobrinha Vanessa Guisso (filha de Lurdes) trazem as lembranças da avó Maria Sossai Guisso, que morreu aos 92 anos de idade. “Ela acordava cedo, lavava o rosto, escovava os dentes duros e colocava o avental, peça com a qual ficava o dia inteiro”

Sua neta Angélica fala que ficou com esse costume de ir para cozinha sempre usando avental. “Fiz avental para todas as minhas filhas e sobrinhas. Eu namorava o Nilo. Ela gostava muito dele e me dava muito incentivo para casar com ele”, recorda-se.

O pai de Angélica e Vanessa, José   Guisso, nasceu em Piracema e foi agricultor e serrador. Angélica ajudava ele puxar a serra e ela e sua irmã Lurdes eram suas ajudantes de obras. Ele passava a receita e as filhas faziam e carregavam a massa para ele entijolar as casas.

Vanessa lembra que o avô fez uma cama toda lavrada com facão. “Eu queria escrever um livro da vida do meu avô, ele contava suas aventuras, como quando atravessava o rio a nado para aplicar injeção em pessoas adoecidas. Ele, que era borracheiro e vendia gasolina, tinha um jeep e sempre se colocava a serviço da comunidade. Ele contava muitas histórias e antes de fazer moinhos, fazia sinteco e calafate”.

Angélica e a sobrinha falam das dificuldades passadas pela família. Vanessa lembra que a avó Maria desfiava saco e enrolava as linhas num graveto e as guardava para remendar roupas. Angélica fez muitas roupas de boneca com linhas da beiradinhas de pano e cobertinhas para as bonecas feitas de abóbora. “Meu pai recortava os olhos, boca e todos os detalhes na abóbora”.

Apesar de José Guisso ter sido incansável no trabalho, tinha momentos de lazer como pescar e jogar “scopa”.  Ele ensinou esse jogo para Lurdes que repassou para as filhas. Vanessa diz que esse jogo é muito bom para estudar matemática. “Foi interessante para aprender somar o valor das cartas e gravar as que valiam mais pontos, como 'Rei Belo'”.

Já Angélica aprendeu com o pai o jogo de belisca. Esses aprendizados lúdicos passaram o gosto pela matemática de geração em geração.

 

O moinho do Vovô José Guisso

Comumente movidos a água, os moinhos feitos por José eram tocados a energia elétrica. “Abramo Andreão fazia a parte de metal e com a talhadeira vovô providenciava os ajustes na pedra e a madeira era serrada com serrote e grupião. Ele media e calculava tudo”.

Angélica completa que, com pó de madeira e cola branca, ele fazia uma cola especial, chamada por ele de “patcheca”, útil para amenizar os defeitos da madeira. As filhas da Angélica aprenderam a fazer esses trabalhos artesanais com o avô, que as incentivava a venderem as peças feitas por ele na escola, dividindo o lucro da venda.

Por puro acaso, um moinho feito pelo avô foi parar nas mãos de Vanessa. Ela comprou um em Brejetuba para instalar em seu sítio e, pelos números que ele registrava na moega com a medida certa de cada parte, ela reconheceu a autoria da peça. “Ele fazia um recorte diferente na pedra conforme o moinho fosse tocado a água ou a energia”, disse sobre outra característica de seu trabalho.

Moega é o elemento de cima do moinho feito em madeira para colocar o milho. Com as madeiras que sobravam da montagem dos moinhos, ele fazia banquinhos dobráveis, jogo de belisca, tábuas, pá de polenta, mesinhas e outras preciosidades artesanais.

 

Compartilhe este conteúdo: