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FAMÍLIA SOSSAI - A personalidade de Maria Sossai pela experiência da neta Lúcia Guisso

FAMÍLIA SOSSAI - A personalidade de Maria Sossai pela experiência da neta Lúcia Guisso

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Assim como vários troncos familiares, o sobrenome de Maria Sossai não prosseguiu entre os seus descendentes, devido ao costume de prevalecer o nome da família do patriarca. Casada com Constante    Guisso, a filha número 10 de Pedro Noé Sossai  teve dez filhos, dentre eles, Joaquim.

O pai de Lúcia Guisso  (Joaquim) mesmo casado e o irmão Marcelino (solteiro) foram os que ficaram morando com a mãe Maria Sossai no casarão antigo ou sobradinho. Ali ela nasceu e morou até os quatro anos, quando Joaquim saiu para ser colono de Rafael Zandonadi, ficando somente Marcelino  em casa até se casar. “Os combinados eram verbais e papai ficava com 40% do que produzia”.

Lúcia traz para o presente a sua experiência de conviver com a vovó Maria Sossai, uma mulher que gostava de fazer horta, um lugar para ela quase sagrado, pois ali ninguém podia colocar a mão. “Tinha de tudo um pouco: cenoura, couve, repolho, beterraba, rabanete... Lembro que na horta dela tinha o radici, ou o almeirão, que ela preparava refogado para comer com polenta, ou servia na salada temperada com vinagre de banana. Costumávamos jogar o feijão quente e bem temperado por cima da salada. Era uma delícia. Era muito especial quando tinha carne na lata no almoço”.

Os plantios de batata doce eram o ponto de partida para outro alimento do cotidiano. O tubérculo era assado na brasa enrolado numa folha de banana. A mesma técnica era usada com o inhame, comumente servido com melado. E o excedente, dessa e da produção de inhame rosa, batata, banana da terra, mamão verde e mandioca, ia para o panelão de cozidos para os porcos. “E eu ia lá para catar alguma coisa para comer também. Eu gostava mais de inhame, que eu comia escondido, com ou sem melado. Eu fazia assim porque ela brigava e dizia muitas vezes: * 'Ei tosatei estesse de cane'. Ela também dizia assim: ** ‘Peta, peta... Che me vai par lá, se no la punhata se brusca'. Para ela, criança era igual cachorro, que tinha que apanhar para aprender”.

“Minha avó também gostava muito de flor. Era ela que descascava e debulhava o milho no paiol, uma atividade que ela me ensinava e eu achava difícil, pois era preciso fazer muita força”, recorda-se.

Maria Sossai criava galinhas e, como tinha muitas, com embira de banana pendurava as aves mais robustas numa vara para vender para a vizinhança. “Ela ia vender para Dalvina Perim, uma de suas clientes, que também comprava o feijão excedente”.

Lúcia, que dormia no mesmo quarto com a avó, tem até hoje a mesinha de cabeceira que fazia parte do mobiliário do ambiente, além de duas malas que sua avó levou o seu enxoval quando se casou. “Ela colocava a imagem de Nossa Senhora e o crucifixo na mesinha e diante, o terço em forma de coração. Essa mesinha ela também levou na ‘dota’”, diz ao se lembrar que diante dessa espécie de altar, ela rezava de joelhos junto com a avó todas as tardes. Pela manhã elas faziam as orações de rotina: Ave Maria, Pai Nossa, Glória, com a prece de Nossa Senhora e a dos Santos Anjos.

Pela tarde, a família jantava em torno das 17 horas. Enquanto a mãe lavava as vasilhas, a família ia se organizando na sala para rezar o terço. “A primeira dezena era de joelhos, começava pelo Creio em Deus Pai e terminava com a Salve Rainha. De vez em quando, a Ladainha”, diz Lúcia sobre a parte que antecedia a reza do quarto, diante da mesinha com a santa, o crucifixo e o terço.

Assim como nas outras famílias da época, todos acordavam ainda antes do sol nascer. Dentre as 4h30 às 5 horas, as galinhas tinham que ser tratadas e, em seguida, a polenta a ser servida no café da manhã ia para o fogo. “Comíamos polenta com leite e depois era pegar o caminho da roça levando uma chaleira e um embornal com pães dentro”. 

Debaixo da casa de Rafael Zandonadi, sua mãe, Dona Santa, produzia o queijo com o leite que Lúcia levava e elas conversavam enquanto o leite talhava. Como Dona Santa sabia que a família não tinha dinheiro para comprar queijo e que Lúcia gostava muito, ela chamava pela garota escondendo sua mão dentro do avental (bem sujo), observava se não tinha ninguém olhando e entregava a delícia bem de galope. “A gente tinha muita fome e essa era uma pequena alegria. Ela fazia uma bolinha de massa de queijo, que eu primeiro lambia para não acabar logo, e ia comer escondida no cafezal”.

Lúcia sempre acompanhava a avó em sua rotina, incluindo as suas idas para a roça. Ela explica que dentro do universo feminino cabia a avó os cuidados com as crianças. “E minha avó comandava as crianças com uma educação rígida e mesmo assim a minha infância teve momentos gostosos. Um deles era quando eu ia passear na casa da minha tia avó. A irmã de minha avó Virgínia era casada com Pedro Cola e quando eu ia lá, ficava conversando com Camilo Cola, que balançava a tarde inteira numa cadeira”.

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