FAMÍLIA SOSSAI - Toda italianidade da família Sossai no Prainha Café
No estabelecimento de Valéria Sossai Falchetto, a polenta é a protagonista de um cardápio que valoriza a culinária típica
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Localizado no sítio histórico de Vila Velha, o Prainha Café propõe aos seus frequentadores uma experiência gastronômica ligada às raízes culturais de Valéria Sossai Falchetto, que é a dona, fundadora, cozinheira e chef. Ela, que cresceu num ambiente de valorização de sabores e já morou na Itália, trazia esse projeto na cabeça e que foi se lapidando com suas experiências familiares e pessoais.
No Prainha Café a polenta é a protagonista do cardápio. A iguaria é servida tostada na chapa, a famosa brustolada, com diferentes coberturas e em várias receitas. Seguindo essa linha, predominam as ofertas gastronômicas relacionadas à história da sua família, ingredientes de Venda Nova e de seu entorno, e, é claro, as receitas de família e afetivas.
Como exemplo de ingredientes podemos citar a puína (ricota), que era servida pela mãe Edília Sossai com melado de cana. Tem ainda o fubá de moinho de pedra feito com o milho catete, o socol, as linguiças, os antepastos e outras tipicidades regionais de sua terra natal. Alguns ingredientes são perfeitamente identificáveis, como o socol do Angelim Falqueto, o pão de Jesus da Adriana e o queijo da Dona Edma, uma vizinha que produz uma receita muito parecida com a da mãe de Valéria.
Como o interesse é atender às demandas da clientela fiel, o Prainha Café oferece duas opções de almoço executivo, sendo que a carne de lata está no cardápio do almoço de quinta-feira. Este mesmo ingrediente, assim como o pesto de linguiça, aparece nas foccacias, uma opção para as tardes e noites do charmoso espaço.
Pequeno e cheio de charme
Esse modelo de negócio, onde cada detalhe é tratado com carinho pela dona, só é possível em pequena escala, como propõe Valéria. “Reparei na Itália os pequenos mercadinhos, com os produtos vendidos lá dentro. Tudo é pequeno e o dono domina praticamente todo o processo”, diz sobre um pouco da experiência e de suas observações quando esteve naquele país.
Uma das inspirações de Valéria foi uma amiga de Firenze, que tinha uma chácara nas Montanhas, que cuidava dos cultivos e produzia praticamente tudo em um cantinho embaixo da casa. “Ela preparava as conservas das azeitonas que colhia e o mesmo fazia com as alcachofras. Já as uvas eram transformadas em grapa, uma bebida típica italiana. Minha amiga gostava de preparar sozinha o almoço e servir no mesão ao ar livre para os amigos”.
Valéria ficou de 1996 a 2004 na Itália, onde foi fazer especialização em publicidade. “Esse período me deu uma vivência, que desenvolveu meu olhar. A boa comida, feita com ingredientes bons e frescos, e a preparação da culinária me chamaram a atenção, pois valorizam o sabor mais original de cada componente do prato”.
Encantada pela originalidade e simplicidade da gastronomia local, Valéria juntava os amigos e prepara os alimentos, na própria casa ou de alguns deles. E os encontros aconteciam sempre com muita troca de conhecimentos culinários. Dentro do seu atual portfólio de pratos, ela traz 'heranças' como o pesto que aprendeu com uma amiga italiana e as receitas e truques de cozinha aprendidos com a mãe.
Quando retornou para o Brasil, Valéria voltou a trabalhar no comércio, no mesmo que estava antes de ir para a Itália. Em 2021 uma série de mudanças estavam acontecendo em sua vida e quando soube de um imóvel desocupado na Prainha de Vila Velha resolveu alugar e montar uma cafeteria. O imóvel precisaria passar por uma reforma.
Uma série de acontecimentos, como o falecimento de seu pai Benjamim Falchetto, fez ela deixar o projeto esperar um pouco. Em dezembro daquele ano as reformas começaram e no dia 30 de julho de 2022 o Café Prainha abriu as portas. Os clientes foram chegando, apreciando as ofertas e apresentando demandas. “As pessoas começaram a perguntar se o local servia almoço”.
A Itália e o Brasil na cozinha
Diante das demandas, Valéria foi aos poucos introduzindo novas ofertas, como a feijoada de feijão branco, numa versão com museto (uma linguiça típica italiana). Trata-se de um prato brasileiro com um toque de imigrante italiano. Segue esse mesmo conceito, o macarrão com molho de taioba e a lasanha com carne seca.
Todo dia 29 de cada mês tem o 'nhoque da fortuna'. É o dia italiano do Prainha Café e data que comumente uma fila se forma na porta da casa. E quem prova comprova que vale a pena cada minuto de espera. E a sobremesa pode ser uma doce recompensa, principalmente o manjar de coco com ameixa. Uma delícia!
“Trabalhamos para que os clientes sejam bem atendidos, que fiquem o mínimo possível na fila... Todos sabem da proposta intimista do Prainha Café e o quanto valorizamos cada ingrediente, preparamos os pratos com respeito aos sabores, numa reverência aos alimentos”, diz Valéria num depoimento típico do movimento 'slow food', que avança na contramão dos industrializados 'fast food'.
E assim, com ou sem fila na porta, o Prainha Café segue escalando na conquista dos apreciadores de uma boa comida. Dependendo da mesa escolhida é possível apreciar o preparo do prato pela chef Valéria pela abertura da parede (ou passa-prato) que liga o pequeno salão à cozinha.
Quem passa por lá e se permite vivenciar uma experiência gastronômica vai se deparar com uma culinária que é uma herança direta de uma Sossai. Uma Sossai, que se casou com um Falchetto, teve 18 filhos, dentre eles Valéria, uma das corajosas filhas que se dispôs a buscar novas conexões com o país de origem de seus ancestrais imigrantes. E é essa filha, curiosa e observadora, que agora presenteia as atuais gerações com o que há de mais original em alimentação Itália/Brasil, pelo menos nessa linha geográfica e do tempo desenhada pelas famílias de imigrantes.