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FAMÍLIA SOSSAI: Eleninha, a filha mais nova de João Sossai

FAMÍLIA SOSSAI: Eleninha, a filha mais nova de João Sossai

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Eleninha Sossai conviveu com a avó, a parteira Elena Sossai. Suas memórias vêm através das vozes do viúvo, Luiz Altoé, de suas filhas Lúcia Helena e Leia e, principalmente, dos bilhetes que escreveu e deixaram informações valiosas. Luiz, que veio de Jaciguá para morar em Venda Nova quando tinha 14 anos, passou por quatro ou cinco propriedades como colono, e encontrou no Alcino Falqueto a figura do casamenteiro.

“Foi ele que sugeriu eu encontrar com ela. Aproveitei a oportunidade de  quando ela ia da igreja para a sua casa e estava atravessando o trevo de Venda Nova para conversar com Eleninha. Paramos ali,  um bem longe do outro”. Luiz morava em Lavrinhas e, desse local de encontro depois da missa, ele foi para a casa a acompanhando, passando pela Tapera, onde uma estrada abandonada ligava as duas comunidades.

No dia do noivado, Luiz tremeu para colocar a aliança na mão de Eleninha, que morava no sobradinho junto com sua avó Elena. Ela, a filha mais nova de João Sossai e de Luiza Altoé, foi a última solteira da família. “Eu conheci pouco a vovó Elena, que faleceu antes de fazer a casa nova”.

Eleninha herdou a escada de madeira do sobradinho e a peça compõe a casa antiga da família que ela construiu com Luiz Altoé.  Ele calcula que a peça tenha uns 100 anos, embora esteja em excelente estado. O viúvo vive com duas filhas e uma neta. A casa é de madeira e foi feita por Angelim Sossai, que aproveitou parte  do desmanche do sobradinho.

“As famílias dos irmãos de Eleninha ficaram morando na casa com o João, mas quando eu pedi a mão dela em casamento ele já tinha falecido. Então eu fiz o pedido a vovó Luiza, minha sogra. Eu me lembro que eu mal podia ficar perto”, disse se referindo a sua então namorada. “Na despedida, a gente continuava longe e, se demorava, ela ficava arranhando a garganta”.

Quando solteira, Eleninha plantava alho e o pai João fazia as vendas. Com esse dinheiro, ele comprou uma imagem que existe até hoje. Luiz se lembra de uma mulher alegre, que cantava as músicas em italiano. As roupas de Eleninha e a de seus familiares eram feitas dos tecidos comprados dos viajantes. Ela e as irmãs costumavam ganhar sabonetes dos mascates, que ficavam hospedados na casa da família quando passavam em Venda Nova.

“Eleninha passava as roupas do irmão dela, o Angelim, quando ele ia a cavalo namorar com a Tereza, em São Manoel, na Fazenda Macuco.  Também me lembro da história que ela e o irmão Pedrinho (o Pedro Segundo) ganhavam vinho (que o pai deles fazia todo ano), pois eles ajudavam a colher as uvas. A pedido da mãe e do tio, eles iam no rio lavar as garrafinhas com areia e água. Sacudiam até ficar 'lustrinho'. Para dar um agrado, o pai deu uma garrafinha cheia de vinho para cada um deles, que beberam tudo, sem imaginar que iam passar mal. Eles então se deitaram no pasto até se recuperarem”.

Luiz conta um dos trechos da vida da falecida esposa e também fala da religiosidade tão presente na vida dela e de sua família. Na Quaresma a família da esposa tinha o hábito de rezar 40 Pai Nossos todos os dias, usando como referência  um barbante com 40 nozinhos. Cada dia desmanchava ou cortava um deles. Cada um dos filhos subia em um pé de árvore para evitar olhar um para outro e começar a rir, pois teriam que recomeçar tudo. Eleninha e Pedrinho, os mais novos, eram os que mais riam.

Eleninha, como suas irmãs, era alegre. Todas iam para a roça e trabalhavam cantando e recitando versos o dia inteiro.  Conforme contou à família, tinha uma professora que não gostava muito dela e do Pedrinho, que não sabiam se comunicar falando português, e os chamavam Maria Pamonha e João Pamonha. Na verdade, essa professora estaria interessada num rapaz que queria namorar sua irmã Eliza.

Menina atenciosa, ela tinha apenas dez anos quando ajudava a tomar conta de seu sobrinho Alfredo. Ele tinha um problema respiratório que parecia uma asma, e vivia sempre muito bem enrolado. Era um bebê pesado e ela o levava para tomar sol.

Uma das grandes conquistas do casal foi assinar a posse do terreno da família. Eles saíram cedo de casa e foram de bicicleta de Venda Nova até Conceição do Castelo: Luiz guiando e Eleninha, grávida da filha Cecília, na garupa. “A estrada era puro buraco. Não tinha um palmo de cimento. Tivemos que ir lá para assinar os documentos, pois Venda Nova não tinha cartório”, se recorda Luiz. Ele comprou pão e guaraná para lancharem e foi a primeira vez que Eleninha tomou refrigerante na vida.

 

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