FAMÍLIA SOSSAI - As histórias do sobradinho
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Alfredo Sossai é o neto mais velho de João Sossai- o nono filho de Pietro Noè Sossai e Elena Caliman. Ele, que nasceu no sobradinho, ainda mora na propriedade na Tapera, logo depois do casarão que fora construído na frente do sobradinho. “Meu avô morou naquela casa. Meu pai ficou morando lá junto com as irmãs solteiras e eu fiquei até ir para o colégio, aos 12 anos”.
Ele se recorda que dormia no quarto de cima e que as divisórias dos cômodos eram de tábuas de cedro. “Na parte superior, um quarto era para as meninas, outro para os meninos e outro para minhas tias e não me lembro quem ficava nos outros. Meus pais dormiam no primeiro piso. Lembro que eu e meu irmão João Alvécio dividíamos a mesma cama e a gente ficava 'enguiziando' e fazendo brincadeiras e, como os quartos não tinham forro, minhas tias escutavam e brigavam com a gente”.
O preparo para o sono vinha logo depois do ritual diário religioso. Depois da janta, nos finais de tarde, eram rezados o Ato de Contrição, a Contrição e a Salve Rainha, orações seguidas de aula de catecismo. Esta última parte era seguida de uma série de perguntas que o nonno João fazia.
“Eu me lembro de um domingo que chovia muito e poucos ou ninguém foram a reza. Meu avô aproveitou para chamar dois netos, eu e meu irmão João Alvécio, para ensinar o catecismo. Os outros irmãos foram crescendo e iam rezando junto com a gente, que éramos acompanhados por tia Eleninha”.
O sobradinho foi construído alto do chão, de modo que era possível entrar debaixo para fazer a limpeza do local que servia também para guardar ferramentas. Como o terreno era inclinado, essa altura variava, chegando, na parte mais alta, ficar à base da casa a mais de um metro do chão. A cozinha ficava em um canto, contando com uma despensa anexa e mais para o lado de fora do corpo da casa, toda construída em tábua. “Um dia eu fui pegar algo para as minhas tias e, como estava escuro, pisei dentro de uma gamela de sabão quente. Perdi toda a pele do pé”.
Alfredo começou a ser alfabetizado pelo pai e pelo tio Pedro Segundo Sossai, que também ensinaram a ele a fazer contas. Ele lembra das confusões que fazia com algumas letras e como engasgava para pronunciá-las. Mas, quando foi para a escola- a antiga Idalino Monteiro, que hoje é a Domingos Perim-, já chegou alfabetizado e deu pouco trabalho para a professora Aleida Marques, que depois foi substituída pela Dona Alcéia.
Peças do sobradinho foram reaproveitadas
Segundo as contas de Alfredo, a casa nova foi construída em frente ao sobradinho por volta de 1957. “Eu não me lembro quando o sobradinho foi demolido, mas sei que as madeiras das divisórias e as tábuas do assoalho foram reutilizadas para a casa de Claudiano Gonçalves e também nas casas de alguns colonos. As baldrames vieram para a construção de minha casa, estrutura sob as quais moro até hoje”.
A escada, que começava a partir de uma plataforma, dobrava à direita seguindo rente à parede, também existe até hoje. “Quando a casa foi desmanchada eu estava no colégio. Conta-se que as rezas e as catequeses aconteciam debaixo dela”.
De acordo com Alfredo, foi a primeira casa da propriedade da família Sossai na Tapera, construída depois do sobradinho, trata-se da que foi destinada ao Ângelo (ou Angelim), seu pai. “O nonno João morreu muito cedo e não chegou a ter casa própria”. A segunda foi erguida em frente ao sobradinho e a terceira, foi a dele, que, conforme foi relatado, aproveitou as baldrames retiradas do desmanche do sobradinho.
A casa de Ângelo já passou por reformas, assim como a casa de Alfredo, que ganhou uma varanda charmosa com assoalho feito de dormentes de madeira e gradis de ferro. A antiga escadinha de acesso à porta principal está mantida e pode ser vista por debaixo da varanda nova.
As tias Pesca e as imagens da igreja
Além das histórias e das heranças em forma de peças de construção, Alfredo se lembra também das visitas das tias-avós Angelina e Helena Pesca, filhas de Antônia Vitória Maria Sossai, que era a primogênita de Pietro Noè Sossai e Elena Caliman. Eu tinha entre 6 a 7 anos quando elas vieram para pintar todas as imagens da igreja no sobradinho. Elas fizeram o serviço numa das salas que o avô de Alfredo destinava para fazer baús.
“O pessoal da cantoria, cada um pegou uma imagem em Castelo, as trouxeram para Venda Nova de ônibus do Otávio Perim e deixaram todas no sobradinho para Angelina Pesca reformar e pintar. Essas imagens estão na matriz de Venda Nova”.
Quando a mãe morreu no parto, Angelina e Helena ficaram órfãs ainda meninas. Elas tinham mais dois irmãos (José e Pedro) e, como não se casaram, a descendência a partir de Antônia Vitória ficou pequena e de difícil localização. Antônia era a primeira filha do casal de imigrantes que deram origem a toda família ainda na Itália (ela, Benjamim, Ana Orsola, Jerônimo, Amália Elizabeta e Carlo Eugênio nasceram lá) e no Brasil, e seu marido (Luigi Pesca) casou-se novamente, consequentemente nem todos os Pescas filhos deles são Sossai.