FAMÍLIA SOSSAI: Uma casa cheia de histórias e memórias afetivas
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Quando aos 24 anos de idade, Pedro Segundo Sossai, filho de João Sossai, se casou com Claudina Falqueto, 23, no ano de 1950, foi morar no sobradinho para começar a formar sua nova família. Lá já moravam Elena, Ângelo e Teresa, suas irmãs, e o casal teve cinco filhos: Ana Almira, Maria Cleófas (a Tiel), Valério, Luciana e Jakson.
Quando a casa nova edificada em frente ao sobradinho ficou pronta, Teresa Côco e Angelim Sossai e toda família se mudaram para lá. Teresa tinha a saúde frágil e passava muito mal toda vez que tinha um filho. Precisava ficar deitada os 40 dias de resguardo. Depois o casal se mudou para a casa ao lado, construída a uns 100 metros de distância e que fora erguida para Domingos, um dos filhos mais velho, que se mudou com sua família para Jaguaré, Norte do Estado.
A casa tem sete quartos, um banheiro na área interna (um luxo para a época) e outro na área de serviço - sendo que o quarto de trás tinha acesso especial ao banheiro, sala, copa com lavatório e uma cozinha com fogão a lenha, que garantia água quente no chuveiro com o sistema de serpentina. Aquela casa foi feita pela própria família, esquadrinhada por eles e construída sob a responsabilidade de Ângelo Sossai, já que na época Pedro Segundo estudava em Santa Isabel, no Verbo Divino.
Vale destacar o oratório com as imagens de Santo Antônio, da qual Teresa era devota, e de São José, e próximos os quadros do Sagrado Coração de Maria e do Sagrado Coração de Jesus, travados em uma prateleira estreita. Tinha ainda um andor esculpido dentro de um toco por Angelim. Esta peça encontra-se na loja de Valério e Jakson, filhos empreendedores de Pedro Segundo. Um filtro de barro, uma peça importante e rara na época, ganhou uma mesinha feita especialmente para ele e ficava estrategicamente na porta de entrada da sala de visita.
Janelas amarelas
Ainda de pé e exibindo a mesma beleza na fachada, a casa permanece com as paredes chapiscadas e de cor de terra e com as janelas 'cor de gema de ovo' envoltas em molduras brancas. Só as paredes da varanda tiveram um acabamento em alvenaria lisa e pintada de branco. Pedro Segundo reformou a casa e manteve as características: lavou as janelas, as pintou com a mesma cor e também manteve os trincos originais
De acordo com Tiel, os tijolos da obra foram feitos na olaria de Paulo Caliman, onde hoje é a Vila Betânea, e com a cobertura em três águas usando as telhas compradas em Alfredo Chaves. A casa sobrevive com pequenas alterações. “A varanda está do mesmo jeito e o chão todo de friso de madeira. As janelas eram só de madeira e para ventilar, na parte de cima, tem uma báscula. Devido ao peso, para levantar essas peças, foram necessárias cordas. O quarto de nossos pais tinha acesso para um outro, onde ficavam os bebês até serem desmamados”.
Umas das curiosidades da obra era o lugar de madeira, próprio para colocar a lamparina, e que foi feito de tal forma que a fumaça não pretejava o banheiro. O banheiro foi feito todo em cimento batido, tanto o chão como as paredes, com uma impermeabilização perfeita para as necessidades da época.
No entorno da casa
Na parte externa, as edificações de apoio, como paiol, galinheiro, chiqueiro, terreiro de café e estaleiro, formavam o complexo que fazia a propriedade e a casa funcionarem. A casa grande na frente, o sobradinho atrás, com um grande quintal gramado e, em sua lateral esquerda o cercado das galinhas, o paiol e o chiqueiro, além da estrutura da caixa d'água, que era externa. Mais ao lado direito do gramado, a tulha, a garagem e o terreiro de café. A estradinha que levava para a casa de Angelim Sossai seguia ao lado direito da moradia, com um pequeno jardim no meio, e seguida ao seu longo por um pequeno córrego.
O paiol- espaço para guardar o milho- tinha uma divisória feita de ripas de palmito. As espigas chegavam da roça dentro de um balaião e eram jogadas em um canto logo perto da porta. As mais bonitas ficavam acondicionadas em balaios e serviam para fazer fubá na máquina instalada na primeira parte do cômodo. Já o restoio ficava armazenado na segunda parte.
Na frente do paiol tinha um grande cercado de madeira, com um portão ao fundo isolando o espaço. Depois desse portão, e próximo ao chiqueiro, ficava o panelão de preparar a comida dos porcos e a taboleta para o acesso do cachorro Cavaco. “Só o cachorro conseguia abrir essa taboleta, batendo a cabeça. Ele acompanhava meu pai diariamente na lida. Uma certa vez, o Cavaco o salvou de um ataque de uma raposa”.
O empreendedor
O estaleiro, onde Pedro Segundo trabalhava junto aos irmãos, ficava também perto da casa e era da família. “Meu pai, ainda menino ficava na parte debaixo do serrador, posição que às vezes revezava com meu tio Angelim, que colocava todo mundo para trabalhar”.
Pedro Segundo trabalhou desde menino e, adulto, ensinou os sobrinhos a trabalharem para serem empreendedores. Numa certa época, as mulheres é que ajudavam molhar o tomate usando o caldeirão, o mesmo que elas ferviam o leite. “Numa ocasião, ele escolheu o tomate mais bonito, um exemplar que tinha tomado chuva e que a casca aguentou, abriu, deixou secar e produziu a própria semente em uma semeadura feita de sacola de papel. Também plantou batata semente, mas em outra propriedade, onde ele disse que a terra não tinha doença”.
Tiel ainda relata que seu pai aprendeu a ler com os padres e se tornou um grande leitor. Leu a biblioteca toda e sabia tudo de história. “Meu pai tinha uma visão fantástica, buscava inovações para melhorar a vida de toda família. Eu me lembro de quando ele e o primo Alfredo foram para Belo Horizonte e trouxeram uma Kombi nova para a família”.
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O sobradinho e a catequese
O assoalho da parte térrea da edificação era todo em chão batido e uma escada de madeira na sala principal representava o acesso para a parte superior, que era cheia de quartos e um corredor no meio. Foi a primeira casa erguida na propriedade da família Sossai na Tapera.
Nesta sala era onde a família fazia a catequese com as crianças. Quando Pedro Segundo e a esposa foram morar na casa nova, Elena Sossai continuou morando no sobradinho. “Eu não sei se deu tempo de ela morar na casa nova”, observa Tiel.
Seguindo o exemplo dos pais, Tiel foi catequista durante muitos anos, parando quando passou a trabalhar fora de casa. Já Luciana, sua irmã mais nova, ainda exerce a atividade na igreja de Santa Rita, próxima de sua casa, no bairro Vila da Mata. “Cheguei a ser catequista no casarão novo, lugar onde parte importante da história de minha família se desenrolou. Todos os domingos tinha catequese em casa enquanto meus pais iam para a missa na Igreja Matriz São Pedro”.