75 anos do Rio Branco: O vestiário era na casa da família Pagotto
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Valter Pagotto, meia esquerda e camisa 10, atuou
no Rio Branco de 1960 a 1987.
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O sobrado já demolido da família Pagotto, logo do outro lado da rua, já foi o vestiário dos jogadores do Rio Branco. Verdadeiramente apaixonados pelo Clube até hoje, homens e mulheres da família sempre estão nas arquibancadas prestigiando os jogos e continuam se interessando pela vida esportiva e pela sua continuidade. “Era uma casa alta, que ficava em frente de onde é a entrada do Rio Branco. Era a casa mais próxima. No outro extremo, também de frente para o campo, ficava a casa de Roberto Feitosa” recorda-se Valter Pagotto.
Atleta do clube de 1960 até 1987, Valter Pagotto, 73 anos, também jogou no Clube por amor ao esporte e fez parte da leva de jogadores voluntários. Antes de fazer parte do time de meio de campo, ainda garoto, atuava como roupeiro da equipe. Ele juntava as camisas e bermudas logo após os jogos, colocava as peças dentro de um saco e levava para a casa de sua família, onde eram lavadas para novamente serem usadas. Eram mais de 30 jogos, totalizando mais de 60 peças, que ficavam sob a responsabilidade da mãe e tias de Valter.
Aos 14 anos Valter começou a jogar e nessa fase deixou de ser roupeiro, passando a fazer parte dos voluntários que ajudavam a cuidar do campo e também assumiu o serviço de marcação das linhas laterais e centrais. Essas atividades estavam entre as responsabilidades dos atletas junto ao Clube, pelo menos para aqueles que moravam mais próximos e tinham mais facilidade de se envolver mais. “Eu roçava o gramado com uma ronca, um tipo de foice mais leve e afiada do que a foice usada para cortar galhos”, explica Valter.
Valter, assim como os outros integrantes, trabalhava desde muito jovem e por isso, seguia o padrão de se dedicar somente ao futebol aos domingos, quando jogava oficialmente ou simplesmente treinava. Quando deixou de ser atleta, ele passou a fazer parte da diretoria, mas nunca como presidente. “Sempre gostei de ser ativo no Conselho e nas decisões de impacto na vida do Clube”.
Momentos marcantes
Para Valter, a fase mais importante foi a da passagem do clube de amador para profissional. “Foi um salto grande, com Cezar na presidência”, afirma o ex-atleta, que era vice na época.
Antes desse fato, Valter considera que o final dos anos 60 também foi marcante, pois o Clube passou a cobrar ingresso. Ele destaca o papel de Altino Zulcão, que na avaliação dele foi uns dos grandes benfeitores do Rio Branco. “Com seu trabalho, deu início à construção dos vestiários para jogadores do Clube e visitantes, bar e cerca na parte frontal e lateral. Toda essa estrutura possibilitou fonte de renda para manutenção e melhorias para o Clube”.
Valter se lembra que os jogadores ajudaram com a mão de obra e Altino conseguia as doações de madeira e outros materiais necessários. “De forma voluntária ele tomava a liderança. Nessa fase amadora, sua ação foi muito importante”, reforça.
Quando Valter fez parte do time, tinha uma turma que estudava em Vitória e retornava aos domingos para jogar. Ele, por exemplo, pagava suas passagens, assim como Chico Zorzal, José Luiz Nodari, Ninim Nodari, Sarara e outros.
Viagens na estrada de terra
Até os anos 70, as viagens para jogar fora eram constantes. Com a conclusão da BR-262, na avaliação de Valter, houve uma certa acomodação e Venda Nova passou a receber mais os times de fora, principalmente de Vitória, segundo avalia Valter. Antes, as viagens em carrocerias de caminhão eram verdadeiras aventuras. Os jogadores destemidos enfrentavam o barro e as más condições das estradas. Como éramos cerca de 30 homens fortes, tínhamos condições para livrar os carros dos atoleiros e prosseguir a viagem. Não tinha barro que impedia nossa passagem”. Valter se lembra que o motorista era Zeca Altoé, o dono do carro.
Num dia chuvoso, a equipe viajava na carroceria com uma cobertura improvisada de lona, segurada por eles mesmos. O time retornava no final de tarde de um jogo em Conceição do Castelo, Brasiliano (que tinha em torno de 20 anos de idade) se desequilibrou e, na confusão com a lona, caiu debaixo da roda traseira. Foi fatal. “Ele era meu colega de jogo. Eu estava do lado dele. Foi muito triste. Eudes percebeu e disse: caiu alguém e está no barro”.
Para Valter, o Caxias de Conceição do Castelo (junto com o São João e o Campinho, de Domingos Martins), estava entre os maiores adversários do Rio Branco. “Fazíamos amistosos e houve dois ou três campeonatos regionais. Perdemos uma final em Campinho e foi um dia muito triste porque eu fui expulso. Foi o campeonato amador mais importante que eu participei. Eu acredito que era mais direcionado para a vitória do Campinho, pois toda arbitragem era de lá”, relembra o ex-meia esquerda e camisa 10 do time.
O Rio Branco no Capixaba
Valter Pagotto acredita que a participação do Rio Branco no Capixaba deve ser reavaliada, pois tem dúvidas dos benefícios gerados. Apesar de ele considerar que a conquista em uma vaga no Campeonato faça parte dos momentos marcantes na história do Clube.
“O Capixaba não merece uma comunidade como a nossa”, diz ao se referir à paixão e à dignidade que permeiam todas as decisões e do envolvimento apaixonado dos moradores ao Clube. “Talvez nosso caminho seja prestigiar a comunidade, estimular nossos atletas e recuperar a participação do atleta local em meio de campo, promovendo campeonatos intermunicipais e locais”.
Valter se lembra de um campeonato promovido na época em que Nicolau Falchetto era prefeito de Conceição do Castelo (e Venda Nova era distrito), que até hoje continua na memória dos jogadores e alguns torcedores. “Tudo era mais simples e melhor. Os interesses em torno de campeonatos com o Capixaba vão muito além do jogo de meio de campo e não é isso que queremos para nossa comunidade”.