100 Anos da Domingos Perim: Vera Paraíso, uma diretora que até auxiliava na cozinha
Quando assumiu a diretoria em 1973, a Escola só contava com uma merendeira, que também assumia os trabalhos da limpeza
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Vera Paraíso Ferrari chegou em Venda Nova em 1972, transferida de uma escola do município de Linhares, Norte do Espírito Santo e logo assumiu as aulas da terceira série da Escola Idalino Monteiro. Grávida do segundo filho, trabalhou até agosto, quando saiu de licença maternidade.
No início do ano letivo de 1973 Vera retornou como diretora, função que exerceu durante 18 anos. Depois ela atuou seis anos no Subnúcleo de Educação, onde Padre Cleto era o chefe. Ela saiu em 1996, quando foi autorizada pela Sedu a se afastar até sair a aposentadoria.
Nos primeiros quatro anos da direção, a escola só contava com os professores, a própria diretora e uma merendeira, que também exercia o trabalho de faxineira. Na direção, sempre ajudava na preparação da merenda e na limpeza da escola em geral. Até que a escola teve mais uma merendeira e uma funcionária da limpeza. “Eu tinha que ajudar, caso contrário ela não daria conta de tanto serviço. Acredito que no início eram cerca de 200 alunos, o que só foi amentando ao longo dos anos”.
Outra dificuldade era a ausência do serviço de abastecimento de água tratada. A escola era servida por um poço artesiano, que sempre apresentava problemas no sistema. Nesses momentos entrava em ação a “Vera encanadora”, que para colocar água na caixa precisava fazer a bomba funcionar. “Às vezes eu me sujava toda de barro e precisava retornar para casa para trocar de roupa”, recorda-se.
Um dia, quando estava mexendo no encanamento, chegou Moacir Perini (morador de Linhares e esposo da professora Maria Helena Calmon, que lecionava no interior daquele município). “Você tá parecendo prefeito de cidade do interior cuidando de água de poço”, recorda Vera a fala do visitante.
A situação só não era mais difícil porque o esposo de Vera, Enesmar Ferrari, que era funcionário do IBC, a ajudava muito nos serviços de reparo da escola e também nas festas. “Eu era exigente e brigava se ele não fizesse como eu achava que deveria”.
Numa realidade onde precisava fazer de tudo, Vera se lembra que ficava trabalhando o dia inteiro resolvendo problemas na estrutura física do prédio escolar. Tinha ocasião que precisava conciliar toda essa luta com as 'corridas' até a sua casa para amamentar seus filhos bebês.
Nos primeiros anos de Venda Nova, Vera morou onde hoje é o bairro Vila Betânea. “Tinha umas sete casas”, diz sobre onde residiu até 1978. Depois ela foi morar na avenida Domingos Perim, no Centro, bem próximo da escola, o que amenizou a sua luta diária.
“As dificuldades eram muitas. No entanto, nós contávamos com pais compreensivos e colaboradores. Eles davam muito apoio aos professores e diretores. E o apoio era no dia a dia e também nas ocasiões especiais, quando a escola promovia festas e apresentações culturais.
A Festa das Cores, um evento promovido pela Escola, está entre um dos momentos marcantes para a ex-diretora, apesar dela não se lembrar do ano exato. “As crianças saiam de dentro das caixas fantasiadas como flores coloridas... Foi um espetáculo lindo para a comunidade. “A escola contava com uma equipe de peso, como a professora Isabel Feitosa, Aleida Zulcão, Glorinha Santolin, Angélica Pagotto e a Ritinha Delarmelina. Também tinha a secretária Isa Cabral, que ajudava muito. E as professoras que moravam em Castelo sempre compareciam aos eventos, assim como os pais de alunos, que não mediam esforços”.
Ao olhar para trás e ver muitas lutas e muito mais coisas boas, Vera se recorda que nas ocasiões que cogitava deixar de ser diretora sempre tinha uma mãe a pedir que ela ficasse. “Espera meu filho concluir para sair da escola”, reproduz as falas recorrentes’’. Era uma integração muito grande, onde todos os profissionais se dedicam muito além das exigências do currículo”.
Vera afirma sempre ter trabalhado de acordo com sua consciência. Ela diz se sentir feliz em olhar para trás e gostar quando se encontra com ex-alunos, satisfeitos com as vidas que construíram. Ao se recordar de ex-alunos (daquele um ano que lecionou), ela cita Deolindo Junior, os irmãos Jeorcides e Jeonildes Betini, e os irmãos Libério e Jaime Guisso. “Era uma turma muito boa”.
Este último, que é pedreiro, esteve em sua casa dias atrás fazendo uns reparos. Sua neta Sônia Maria, muito comunicativa, foi conversar com ele e, ao relatar que sua vó fazia muitas comidinhas gostosas, ficou sabendo que o pedreiro foi aluno dela. “Deve ser por isso que você trabalha tão bem”, sentenciou.