A origem dos recursos pagos aos bolsistas e a manutenção do Centro de Pesquisa
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Atualmente quase 70% dos recursos dos projetos do Coffee Design são provenientes da iniciativa privada. Estes recursos estão distribuídos entre custeio e capital, o pagamento aos estudantes, manutenção da infraestrutura dos laboratórios e aquisição de equipamentos para os processos de pesquisa.
“Sem estes recursos, seria impossível termos a infraestrutura que possuímos atualmente. O desafio então é o processo de manutenção. Contamos com dois fatores curiosos e o primeiro é o zelo/cuidado com o patrimônio, para que os processos de depreciação seja o mais brando possível. Já o segundo é que, à medida que os alunos vão se formando, eles ganham experiências e elevam o nível acadêmico. A partir disso, o nível de remuneração deve mudar, para cima. Ou seja, deve acompanhar o grau de formação, fazendo com que a demanda por recursos de custeio aumente’’, relata o professor.
“Dentro dessa linha de raciocínio vale observar que à medida que avançamos na resolução de problemas precisamos de estudantes com maior nível de formação, que demandam uma remuneração condizente com a sua bagagem acadêmica’’.
“Esse sem dúvida é o desafio que temos que enfrentar: criar condições para que todos possam fazer o ciclo de transição do ensino médio para o doutoramento com remuneração condizente com o seu nível acadêmico’’.
Parceria com o Sicoob e a projeção do conilon
A parceria com o Sicoob Sul-Serrano iniciou-se em 2017, em virtude do Cup of Excellence. Na ocasião o Ifes decidiu trazer o concurso de qualidade para o Espírito Santo e realizá-lo dentro do campus.
Existia um alinhamento entre os gestores do projeto com o governo do Estado, para que parte dos recursos fosse provido pela Secretaria de Estado da Agricultura- Seag, que não conseguiu honrar o compromisso firmado na época.
“Diante do desafio de cumprir o acordo com a BSCA e manter as condições de execução do evento, fomos até Bento Venturim, presidente do Sicoob ES, e apresentamos a situação. Ele lançou o desafio de inserir o café conilon em alguma ação no decurso do concurso dos melhores cafés arábicas do Brasil para que o Sicoob honrasse com a parte do Estado’’, recorda-se.
Com o desafio lançado, foi alinhado com a organização do evento um momento pós-concurso para uma apresentação dos melhores cafés conilons do Estado. “A ação mudou a história do próprio conilon no Estado pelo pioneirismo e visão do Sicoob (nas pessoas dos irmãos Bento e Cleto Venturim), que conseguiram enxergar a oportunidade de virar a página e inserir o até então ‘patinho feio’ da qualidade no cenário dos cafés especiais’’.
Em 2018 foi demonstrado ao Sicoob o impacto da ação realizada em 2017 e o retorno no território em termos de premiações e projeção do Estado fora do país. “Apresentamos também o projeto de pesquisa: ‘Determinantes da Qualidade dos Cafés do Espírito Santo’, para execução de 2019 a 2021, que por convergência do destino, se tornou em ‘Metaboloma do Café Brasileiro, 2021 a 2024'“.
“O Sicoob ES abriu as portas para que nossos sonhos se tornassem realidade, para que fosse possível realizar e desenvolver pesquisa de ponta, com objetivos ousados e metas que permitiram um posicionamento internacional do Ifes, enquanto gerador de conhecimento inovador e transformador. De nossa parte, ficam os agradecimentos e a reflexão da coragem dos gestores do Sicoob ES por confiarem em nós a possibilidade de cooperar com o setor privado para melhorar a vida de todos que são beneficiados com as ações dos projetos em andamento’’.
Impacto na vida fora dos muros do campus
“Acredito que nosso papel consiste em mostrar o caminho para os produtores, ensinar os processos de produção de cafés especiais e motivá-los a caminhar por conta própria, evitando o modelo de assistencialismo. Assim abrimos espaço para todos os anos, ensinar quem queira aprender algo novo”.
Para Lucas Louzada, existe muita interação e reciclagem em todos os níveis. Porém, o maior impacto observado nos últimos anos é o senso de independência dos produtores que foram capacitados. “Muitos que aprenderam técnicas de qualidade estão caminhando por conta própria. Conseguiram estabelecer rede de contatos e vendem seus cafés para cafeterias e micro torrefações. Eles estabeleceram relação comercial externa e vivenciam um novo olhar para o negócio, de forma mais empresarial, mais profissional”.
“Além disso, a transformação dos estudantes filhos de agricultores é única. Muitos egressos do Coffee Design conseguiram mudar de vida e também melhorar a vida de seus familiares, retornando para as propriedades dotados de conhecimento e informação para aplicar no dia a dia da propriedade’’.
A trajetória de um projeto que angariou parcerias reverbera nas propriedades rurais e chega até o exterior
O Coffee Design nasceu em 2017como uma iniciativa dos trofessores Eustáquio Vinícius de Castro (Ufes), Emanuele Oliveira, Aldemar Polonini Moreli e Lucas Louzada Pereira. Porém, antes de se chamar Coffee Design, todo os trabalhos de café eram concentrados no Laboratório de Análise e Pesquisa em Café- Lapc.
O Lapc iniciou suas atividades em 2014 com o objetivo de ensinar estudantes a arte de “provar cafés”. Na época, o professor Lucas foi admitido no Ifes, campus Venda Nova, após ter conquistado uma vaga através de concurso público. Pelo fato dele possuir vínculo com o setor privado e por ser classificador e degustador de café, esse processo (concomitante às funções de docência) se tornou natural.
Na ocasião, o diretor geral Aloísio Carnielli autorizou a criação de um pequeno espaço para implantação do laboratório, que foi montado com equipamentos cedidos pela Prefeitura de Vargem Alta.
Naquele ano o objetivo era iniciar cursos de extensão, ofertar capacitação extra para os alunos e iniciar um processo de aproximação da comunidade. A intenção era atender os produtores que buscassem boas práticas para produção de cafés especiais.
Ainda em 2014, a SETEC-MEC lançou um edital de pesquisa paras os Ife's e o campus Venda Nova foi contemplado com recursos para o desenvolvimento das ações de pesquisa. “A partir de 2015 iniciamos os processos com foco em fermentações e na compreensão do terroir que compõe nossa região”, recorda-se Lucas.
O trabalho cresceu e surgiu a necessidade de expandir as ações referentes à infraestrutura a ao capital humano. Em 2016, o professor Aldemar Polonini Moreli se achegou oficialmente à equipe, vindo do campus Ibatiba, em 2017, a professora de química Emanuele Oliveira iniciou sua trajetória como colaboradora e, em 2018, o professor Evandro de Andrade (atual diretor de pesquisa, extensão e pós-graduação) se incorporou. Assim foi formando um grupo focado em estudar os determinantes da qualidade do café.
Vitórias ao longo dos oito anos
Com muito trabalho e muita dedicação, nesses oito anos de Coffee Design foi entregue uma vasta produção científica que beneficia pessoas de diversas regiões do Brasil e do mundo. “Nosso trabalho foi alargado em função da própria fronteira do conhecimento”.
Nestes anos de trabalho vinculados à cafeicultura, Lucas afirma que foi construída uma estrutura genuína, para que alunos, produtores, técnicos e entusiastas do café tivessem acesso, conhecimento e oportunidade.
“Acreditamos que construímos um ambiente onde aqueles que querem estudar o tema café possuem boas oportunidades, embora exista a natural necessidade constante de melhoria, de mudanças, adaptações, frente às demandas globais”, pondera.
“Estes últimos oito anos foram dedicados à captação de recursos, formação de equipe, consolidação de uma identidade interna e fixação da marca Coffee Design como um grupo coeso”. Lucas fala do envolvimento de professores da Universidade Federal de Viçosa, Universidade Federal do Espírito Santo, Incaper, Embrapa Café, Universidade de Loja – Ecuador e Universidade Estadual Agrária de Moscou.
“Saímos do zero e estamos preparados para estudar a temática da qualidade de igual modo com as melhores universidades do Brasil e do Mundo”.
Pesquisa no ensino médio
Os alunos do ensino médio dos Institutos Federais- IFs são privilegiados se comparados aos das redes públicas estadual e municipal. O professor Lucas faz uma reflexão e diz que não se trata de uma supervalorização dos IFs, mas sim uma reflexão a respeito da infraestrutura laboratorial que dispõe, nem sempre vista nas escolas citadas. “No cenário ideal, se a educação de qualidade fosse uma cláusula pétrea neste país, todos os alunos receberiam atendimento e oportunidades iguais. Infelizmente sabemos que poucas escolas possuem uma infraestrutura que permita aos estudantes terem acesso ao ensino e às práticas de pesquisa’’.
Lucas acredita que para os alunos do ensino médio técnico que estão inseridos na pesquisa, os processos de P&D permitem que eles passem compreender desde cedo o papel da ciência, entendendo como algo permanente em suas vivências estudantis. “Uma vez inseridos no meio acadêmico, podem compreender e valorizar a importância do conhecimento científico como forma de emancipação social’’.
De forma prática, muitos alunos passaram a conviver com colegas de níveis de mestrado e doutorado e até mesmo com pesquisadores de fora do país, que convivem no Coffee Design realizando pesquisa. “Isso permite uma inserção em diferentes níveis sociais e intelectuais, fazendo com estes estudantes possam vivenciar práticas acadêmicas avançadas. Acredito que esse modelo de ensino permite que eles tenham maior condição de escolher suas profissões, uma vez que estão estudando e trabalhando nos projetos de pesquisa’’.