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Cafés especiais: ao lado do pai, jovem assume gestão da produção de café das três propriedades

Cafés especiais: ao lado do pai, jovem assume gestão da produção de café das três propriedades

Alice inicia um processo de implantação de inovações na expectativa de fazer valer o potencial dos grãos colhidos nas propriedades da família

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Há dois anos, quando conversamos com Alice Dela Costa Caliman, ela cursava o último período de ciência e tecnologia de alimentos no Ifes e nos relatava a abertura que conquistou junto ao pai, o cafeicultor Edimo Caliman, depois que se integrou à equipe do Lapc, principalmente quando ela o levou para ver de perto as tecnologias desenvolvidas no centro de pesquisa.

Ela se referia, de modo especial, ao método de secagem em estufa em terreiro suspenso para fazer testes de fermentação. “Meu pai viu que dava para investir. Viu os resultados. Agora ele vai fazer melhorias nas estufas de secagem e investir em uma unidade de processamento, junto com meus tios”, disse a bolsista na ocasião.

Atualmente a propriedade em Lavrinhas, Venda Nova, já conta com uma estufa de 25 metros quadrados e, de acordo com ela, a intenção é investir em mais maquinários. Alice fala com a segurança de quem, ao lado do pai e com a liberdade que recebe dos tios, faz a gestão de três propriedades: a de Lavrinhas (com a média de 700 a 800 metros de altitude), a de Brejetuba (com lavouras cultivadas a 1.011 metros) e de Mutum, Minas Gerais (com altura média de 800 metros). “Mesmo com a divisão, meu pai ainda trabalha em forma de colaboração com alguns irmãos”.

Agora formada, Alice se organiza para fazer mestrado no próximo ano enquanto se mantém bolsista do Coffee Design e atua nas propriedades. “Eu participo da compra do adubo, faço as provas sensoriais e também ajudo a decidir sobre a venda dos cafés”, diz sobre a produção de grãos do pai.

A definição da herança do pai deu mais liberdade para atuação de Alice, que comemora mesmo é a conquista de uma melhor pontuação para o café produzido, que passou de 81,5 para 85,5 de uma safra para a outra na propriedade de Lavrinhas. “Fizemos algumas correções e mudamos o método depois dos testes de fermentação, assim como passamos a colher somente os grãos maduros.  Na propriedade da Rancho Dantas, tivemos uma média de pontuação um pouco maior esse ano, chegando até 87 pontos”.

Mesmo tendo um irmão, Alice, 26 anos, sabe que ela será a responsável pela continuidade da atividade cafeeira na família, pois seu irmão Guilherme Dela Costa Caliman, 22, está ligado à área de direito. Ela faz parte de uma nova geração de mulheres que está conquistando um lugar na produção de cafés especiais e, apesar de ter encontrado suporte no Coffee Design, tem na mãe, Elilda Chaves Dela Costa Caliman, sua grande inspiração. “Minha mãe trabalha muito e é muito importante para o sucesso de nossa produção de café. Foi ela quem sempre me incentivou e me apoiou em todas as minhas escolhas e decisões. Minha mãe é meu maior exemplo de coragem, trabalho e força de vontade, seja de fazer ou aprender algo novo”.

 

Elilda Dela Costa: ainda jovem na lavoura

Quando o assunto é disposição, Elilda Chaves Dela Costa Caliman é mesmo um exemplo para a filha. A matriarca conta que nasceu no seio de uma família que cultivava café e tem memória de ainda muito menina ajudar os pais na lavoura.  Ela fazia cova, plantava, ruava, capinava... “Tudo na enxada, pois não tinha 'veneno' naquela época. Era tudo natural”.

Elilda fala de sua infância e juventude na propriedade em Rancho Dantas, Brejetuba, de onde saiu há 26 anos depois de se casar e passar a morar com os sogros, em uma propriedade em Lavrinhas. O esposo trabalhava com mais cinco irmãos. Somente os seis iam para a lavoura e as mulheres, além dos serviços da casa, eram responsáveis pelo café no terreiro.

Ainda bem cedo o café era espalhado no terreiro para ser juntado no final da tarde e coberto por uma lona, assim ficando protegido do sereno. No outro dia o processo se repetia e assim continuava até que os grãos perdessem totalmente a umidade. Quando chegava o ponto de armazenagem, as mulheres colocavam os grãos em sacos de juta ou de trama de plástico e os empilhavam dentro da tulha.

Dependendo do preço, o café ficava de dois a três anos armazenado na tulha, aguardando uma boa reação do mercado para ser vendido. E cabia às mulheres serem criativas na cozinha para preparar os alimentos com o que era possível cultivar e com o que as criações domésticas podiam proporcionar.

“Tinha plantio de milho e de feijão para o gasto da família. Mas isso também custava e, quando não tinha jeito, uma saca ou outra era vendida. Sempre cultivávamos uma horta, criávamos galinha e também tínhamos vaquinhas de leite”, recorda-se Elilda.

Com a partilha da terra entre os herdeiros, seu esposo cuida da lavoura dele e ajuda a manter a de mais dois irmãos. “Só sobrou eu para fazer o trabalho do terreiro. As vezes conto com algum ajudante. Como agora o café fica na estufa, não é mais necessário juntar e cobrir os grãos no final do dia”.

Enquanto ela toma conta dos cafés de Venda Nova, sua cunhada Marlúcia Lavareze Caliman é a responsável por ajudar com os cafés de Rancho Dantas. “Ela ajuda em praticamente todo o processo, desde a colheita até a secagem e armazenamento dos grãos. Também cozinha para meu marido e meus cunhados quando é a época da colheita, pois eles ficam a semana toda trabalhando lá”.

Ao mesmo tempo que a partilha trouxe autonomia e liberdade para implantar as inovações que a filha traz de seus estudos no Ifes, deixou a família  sem algumas benfeitorias. “Voltaremos a investir em secador, despolpador... Com a ajuda da Alice, estamos muito animados, pois sabemos que ela vai continuar a cuidar das lavouras”.

Elilda afirma que o envolvimento da filha trouxe mais esperança. “No meu tempo era muito sacrificado e hoje ela pode cuidar do café e sem fazer tanto trabalho braçal, fazendo a propriedade render”. Ao mostrar que o café pode dar melhor pontuação, Alice encanta seus pais pela disposição em aprender, trazer inovações e em trabalhar.

“É difícil ver uma moça fazer o que ela está fazendo. Todos os dias ela chega suja devido ao trabalho que faz no Ifes. Ela também vai com o pai para a roça e colhe o café que ela vai fazer a fermentação. É muita disposição: ela fala que vai fazer e faz”, diz sem esconder a admiração que sente pela filha.

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